Há aproximadamente 18 anos atrás, fui convidado para assumir a regência da Banda Musical União dos Operários, pois o maestro que me antecedeu havia saído de nossa cidade e a banda ficara sem um regente. Quem me convidou foi o falecido músico tubista Mário mais conhecido como Mario Preto. No primeiro momento pensei em não aceitar tal convite mas senti também uma grande vontade de aceitá-lo, pois foi nesta Banda que aprendi as primeiras notas musicais com o maestro Jorge Cajueiro. Fui a sede da Banda no dia do ensaio e ensaiei a Banda pela primeira vez. Era uma sala pequena que mal comportava todos os músicos e quando começaram a tocar parecia que a sala ia explodir de tanto barulho. Sinceramente não sei se tocavam forte demais só naquele dia, talvez para que eu desistisse ali mesmo, ou se era assim mesmo em todos os ensaios, só sei que quando fui para casa dormir a minha cabeça zoou a noite toda, aquele barulho parecia que não ia sair mais da minha cabeça. Mas com tudo isso eu não resisti a possibilidade de ser o maestro da Centenária União dos Operários, então aceitei o convite. Tinha mil planos para aquela Banda. Logo começamos os trabalhos. Um músico que muito trabalhou comigo naquele primeiro momento foi o tubista Flavio Ferreira, que posteriormente veio a ser o “presidente da Banda” e depois presidente do Centro Musical e Cultural União dos Operários. Os primeiros dias foram de muito, muito trabalho. Primeiro organizamos os arquivos musicais que estavam um tanto desarrumados, onde tivemos o desgosto de perceber que a Banda, mesmo com cem anos de vida tinha muito pouco material musical no arquivo. Depois tivemos o conhecimento de que muitas partituras antigas haviam sido jogadas no lixo por ex-presidentes do Centro como papel velho. Paciência, recuperamos tudo o que foi possível e incluímos algumas novas partituras no repertório. Algum tempo depois conseguimos realizar um grande sonho nosso: assumir a direção do Centro, quando o presidente da época ameaçou entregar as chaves do centro a juíza. Com muito jeitinho conseguimos convencê-lo a não fazer isso e ele aceitou entregar para Flavio a direção do Centro. No primeiro dia fizemos uma faxina que só da secretaria saiu um caminhão de lixo, isso mesmo um caminhão.
Depois providenciamos logo uma reforma do estatuto para que o centro não voltasse mais ao comando de não músicos e para que a Banda fosse a partir daí a principal finalidade do centro. Daí pra cá tem sido sempre assim, a Banda e o centro só são dirigidos por músicos ativos e atuantes da Banda. Outra inovação nossa foi permitir a participação de mulheres como musicistas, e olha que isso só se deu cem anos após a sua criação, êta Banda machista. Para resumir um pouco essa história, hoje continuo como regente da Banda, já há dezoito anos na função, e não pretendo abandoná-la tão cedo, já fui até informado que sou atualmente o dirigente de uma entidade cultural há mais tempo na função em nossa cidade, fico orgulhoso disso. Nesses anos vi muita coisa acontecer em nossa Banda, muitas mudanças, muitas brigas, muitas mesmo com o poder público, manifestações públicas, viagens, concursos de Banda, inimizades até, mas tudo sempre porque coloquei essa Banda sempre em primeiro lugar, o que não me arrependo. Em breve, muito em breve estaremos realizando o meu grande sonho na Banda: a inauguração da maior e melhor sede de Banda em toda a região, destinada exclusivamente a atender as necessidades dos músicos e da escola de música. Uma sede com quatro salas de aula, três banheiros, uma secretaria, uma sala da diretoria (Sala do Maestro, seria, mas não deixaram), alojamento, um mini teatro com palco e um piano, uma garagem para nossa Kombi, área de estacionamento de bicicletas, uma ampla área de lazer no terraço com varandão e chuveiro, além de dois excelentes camarotes para os músicos com seus familiares assistirem ao carnaval em nossa cidade. Tudo isso me enche de alegria, orgulho e até vaidade. Saber que fui, com licença da falta de modéstia, o principal idealizador (sonhador, eu diria) deste grande projeto que hoje já atende a mais de uma centena de alunos com cursos de instrumento de sopro em geral, violino, teclado, piano, teoria musical, canto coral e técnica vocal, musicalização infantil, violão e outros que estamos inventando a cada dia. Tudo isso é para mim, uma grande realização. Pra encerrar agradeço a cada músico, a cada aluno, ao poder público municipal atual e anteriores e a cada cidadão sanjoanense que acredita no nosso trabalho. Esperamos que nos próximos cem anos possamos aumentar muito o nosso patrimônio não só físico e de materiais como também o patrimônio cultural e musical de nossa querida São João da Barra.
