Desde abril de 2010 que estou desenvolvendo um novo trabalho.
Foi-me solicitado em 2009 pela presidência da APAE que indicasse um músico da Banda União dos Operários para coordenar como instrutor de música uma banda marcial na instituição. Indiquei alguns percussionistas que não chegaram a fazer um teste no novo trabalho e já, de antemão, me disseram que não estavam dispostos a “encarar” este desafio.
Diante da insistência da presidente da APAE e após ouvir a mesma me dizer que um certo músico da cidade (que não pertence a União dos Operários) após ser convidado para o trabalho havia lhe respondido que isto não era possível e que talvez ela estivesse “querendo aparecer”, senti que fui desafiado a muito mais que uma tarefa nova, mas a provar para algumas pessoas que nunca se deve menosprezar ninguém e muito menos fazer pré-julgamentos de pessoas com idéias inovadoras e que também não devemos subestimar a capacidade daqueles que desconhecemos.
Este foi um dos combustíveis que me fizeram encarar esta nova empreitada e nova experiência.
Primeira missão: Apresentar a banda da APAE em seu primeiro desfile 17 de junho, dia da cidade com apenas dois meses para ensaiar, sem instrumentos, e com um instrutor inexperiente (eu).
Fui a luta: Fizemos contato com a Escola de samba Congos através do seu presidente Flavio Raposo, que gentilmente nos cedeu por empréstimo diversos taróis e tambores que reformamos e começamos a equipar a nova banda. A presidente Marta também me apareceu lá um dia com quatro bombos médios, dois pares de pratos e duas liras que eu não sei onde ela conseguiu. Compramos baquetas, macetas, talabartes e outros acessórios necessários. Levei os instrumentos para casa e junto com meu filho Yan, que aliás também toca na banda como voluntário, desmontamos, pintamos trocamos peles, afinamos, enfim deixamos os instrumentos apresentáveis e em condições de uso.
Iniciamos os ensaios e logo no primeiro dia vi que não seria uma tarefa fácil, principalmente para mim, que sempre fui ansioso e que gosto de resultados objetivos e imediatos. Criei alguns toques que achei que sendo fáceis de executar seria mais rápido para apresentar os resultados. Triste ilusão a minha. Quando “determinei” o primeiro toque que deveria ser tocado, eles tocaram ao modo deles e mudaram a batida que eu estipulara. Continuaram tocando e eu deixei pra ver até onde iria. Foi aí que aprendi a primeira grande lição desta nova experiência: Não impor nada. Descobrir. Entender a capacidade de cada um e aproveitar ao máximo o que cada um tem de melhor para oferecer. Esta lição eu não esqueci mais, e esta serviu de base para as outras todas. Daí pra frente os novos toques criados não foram mais por mim, mas por eles. Por último já estamos ensaiando até um samba que eles adoram fazer.
Hoje já participamos de alguns desfiles e apresentações e continuamos os ensaios sempre as terças-feiras, porque sei que muito mais que desfilar nas ruas ou nos apresentarmos é preciso manter a qualidade de nosso trabalho e mais ainda mantermos rigorosamente entre uma ou duas horas semanais de alegria e satisfação deles e muito mais, uma sensação de dever cumprido e desafio superado de minha parte.
Agradeço muito a Marta pela confiança, aos funcionários da APAE Ricardo, Herval (Severino), Luciane e Fernanda e a todos os funcionários que sempre de alguma forma colaboram para que este projeto se realize de forma tão completa e interessante, seja diretamente ou apenas quando param seus afazeres para ficar apreciando o resultado de nosso trabalho, o que me enche de orgulho. Agradeço também muito ao meu filho mais novo Yan, que mesmo não sendo aluno da APAE mostrou-se um grande exemplo de pessoa sem preconceito, aceitando participar da banda usando o uniforme comum a todos e assim demonstrando para muitas pessoas preconceituosas uma grande lição dada por um menino de apenas 12 anos.
