sexta-feira, 21 de junho de 2013

                           AS CAMÉLIAS DO LEBLON


 SILVA, Eduardo. As camélias do Leblon e a abolição da escravatura: Uma investigação de história cultural. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 11-57.

O autor: Eduardo Silva nasceu na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio de janeiro, em 1948. Pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), no Rio de Janeiro, desde 1976, Sócio titular do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB). Mestre em História pela UFF em 1979; Doutor em História pela University College London (Inglaterra) em 1992. Autor de diversos livros e membro da comissão de editores da revista do IHGB. Atua na área de história política, cultural e social e principalmente nos temas relacionados com escravidão, abolição, pós-abolição, classes populares e cultura negra.

“1. Quilombo abolicionista: um quilombo historicamente novo.” (p. 11)

    Os quilombos abolicionistas foram um modelo diferente de resistência à escravidão. Eram localizados perto de grandes centros e suas lideranças eram personalidades públicas e conhecidas com bom trânsito entre escravos fugitivos e a sociedade, com documentação civil em dia e bem articulados politicamente: “Uma espécie de instância de intermediação entre a comunidade de fugitivos e a sociedade envolvente” (p. 11). Este modelo de quilombo “é fruto de uma complexa negociação social e política” (p. 12)
    Grandes quilombos que se destacaram nessa nova forma, foram eles: O quilombo Jabaquara, em Santos, São Paulo, liderado por Quintino de Lacerda, e o Quilombo do Leblon, no Rio de Janeiro, liderado pelo português José de Seixas Magalhães.
    José de Seixas Magalhães – Idealizador e chefe do Quilombo do Leblon, um homem de ideias avançadas, abolicionista e fabricante e comerciante de malas  e objetos de viagem na Rua Gonçalves Dias , no centro da cidade, onde utilizava de meios avançados em sua produção com máquinas a vapor que fizeram suas malas receberem prêmios no Brasil e em Viena d`Áustria. Seixas, além de produzir malas, investia em terras na zona Sul, onde possuía uma chácara no Leblon onde cultivava flores com o auxílio de escravos fugidos, ele os escondia na chácara com a cumplicidade dos  principais abolicionistas da capital do império. Era ele também uma espécie de “procurador” da Confederação Abolicionista.
    A chácara Leblon (Leblon - O nome teve sua origem numa chácara pertencente ao francês Charles Le Brond que existia no local em meados do Século XIX.  Até as últimas décadas do século XIX, era um território arenoso ocupado por algumas chácaras. O francês conhecido por Carlos Leblon, possuidor de uma empresa de pesca de baleias, tinha ali uma dessas chácaras desde 1845, razão pela qual a região ficou sendo conhecida como Campo do Leblon, denominação informal que acabou fixada ao bairro) era conhecida como quilombo Leblond, quilombo Le Blon ou quilombo do Leblon. Era lá que seixas “cultivava suas famosas camélias, o símbolo por excelência do movimento abolicionista” (p. 14). Camellia japônica, introduzida no Rio de Janeiro  há uns sessenta anos, era uma planta rara, uma flor delicada em processo de adaptação que exigia cuidados especiais. O quilombo, contava com a cumplicidade de grupos abolicionistas e com a proteção da própria Princesa Isabel. Ele era “uma espécie de ícone do movimento abolicionista, uma de suas melhores bases simbólicas e um de seus trunfos para a negociação política”. (p. 15). O quilombo era mantido e organizado também pela Confederação Abolicionista

“2. Leblon, Jabaquara, Pai Filipe e Isabel: em busca de uma tipologia do quilombo abolicionista”  (p. 19)

    Tanto o quilombo Jabaquara, em Santos, quanto o quilombo do Leblon no Rio de janeiro estavam localizados próximos aos terminais de bonde puxados a burro. Transporte e comunicação eram quesitos fundamentais para  a boa articulação política destes quilombos. O quilombo do Leblon, situava-se em um local ainda intocado pelo homem, à época.
    Esse modelo de quilombo abolicionista, mantinha muitas cumplicidades sociais e por isso era quase impossível dar combate aos mesmos, o do Leblon, especialmente, era a menina dos olhos do abolicionismo radical.
    “A atuação de Seixas, sempre na linha de frente do movimento, valeu-lhe a malquerença de muitos fazendeiros escravistas e outros setores reacionários da capital do Império.” (p. 24) Com isso, o chefe de polícia, desembargador Coelho Bastos, sonhava com a possibilidade de atacar o Leblon e despachar o Seixas de volta para Portugal. Certa vez quando este chefe de polícia quis agir contra o quilombo, este foi protegido pela própria princesa Isabel e pelo próprio Imperador que teria determinado o encerramento do caso sem maiores formalidades ou investigações.
    Era de conhecimento de muitos que a própria princesa Isabel “acoutava pretos no seu palácio em Petrópolis” (p. 30) “Para Rui Barbosa, a atitude firme dos escravos, as fugas em massa e a formação dos quilombos abolicionistas jogam papel verdadeiramente fundamental para a mudança de atitude da princesa.” (p. 30) “Rui Barbosa foi o primeiro intelectual a sustentar que a abolição da escravatura não foi uma dádiva da princesa imperial regente, mas uma conquista do próprio escravo e do movimento abolicionista.” (p. 31)
    A cidade de Campos (hoje Campos dos Goitacazes) também teve um quilombo abolicionista, chamava-se quilombo Carlos Lacerda.
    Mas contudo, não se deve pensar que os quilombos abolicionistas não tinham a sua versão guerreira. Por várias vezes foi preciso que os negros promovessem fugas em massa para a formação destes quilombos e também que enfrentassem de forma guerreira, os ataques da polícia negreira.

“3. O movimento e a semiótica*: um “mimoso bouquet de camélias artificiais”” (p. 35)
      *Sistema que estuda os símbolos e signos empregados em comunicação.

    “Com a proteção do imperador, felizmente, o quilombo do Leblon nunca chegou a ser investigado, continuando a princesa Isabel a receber calmamente os seus ramalhetes de camélias subversivas. E com isso crescia barbaramente a influência e o poder simbólico das camélias na vida política do país, sobretudo das que pudessem ser identificadas como “camélias do Leblon”, “camélias da abolição” ou “camélias da liberdade”.” (p.35) certa feita, a própria princesa Isabel apareceu em público ostentando no vestido uma camélia, este fato conseguiu desagradar igualmente a conservadores, liberais e até republicanos. Para arrecadar fundos para a campanha abolicionista, ela começou a organizar em Petrópolis suas famosas “batalhas de flores”, nesta ocasião ela se mostrou claramente como uma abolicionista de opiniões fortes e contrária às ideias conservadoras. “depois das batalhas de flores e das camélias do Leblon, a princesa como que tomou as rédeas da história e fez-se rainha antecipada, era já Isabel, a redentora.” (p. 36)
    “Enquanto os republicanos ainda resistiam à ideia de abolição incondicional, a princesa aderiu à radicalidade simbólica das camélias do Leblon. Patrocínio, até então um duro crítico da monarquia, cai aos pés da princesa e passa a lhe dar apoio incondicional.” (p. 37)
    “As camélias do Leblon e as batalhas de flores simplesmente jogaram por terra a situação conservadora. Com a atitude da princesa, a alta roda em peso queria ser abolicionista e libertar seus escravos. (...) Ser abolicionista, que até então era uma posição de sacrifício, virou uma espécie de coqueluche da moda.” (p. 40)
    “ Na hora mesma em que a lei foi assinada, no dia 13 de maio de 1888, aproximou-se da princesa o presidente da Confederação Abolicionista, João Clapp, e lhe fez entrega, em nome do movimento abolicionista, de um “mimoso bouquet de camélias artificiais”. E logo em seguida, aproximou-se também o imigrante Seixas, honrado fabricante de malas, que passou às mãos da princesa um outro belíssimo buquê de camélias. Desta feita, contudo, camélias naturais, viçosas, vindas diretamente do quilombo do Leblon” (p. 42/43) Camélias, a partir daí tornaram-se um símbolo do movimento político abolicionista, da ala radical, do grupo que promovia fugas e formação de quilombos, servia inclusive como uma esécie de senha por meio da qual os abolicionistas poderiam ser identificados em missões perigosas ou ilegais. Eis a semiótica política das camélias no processo de abolição.

“4. A Vila Maria Augusta e seu jardim: uma possível sobrevivência do quilombo do Leblon” (p.46)

    “Usar uma camélia na lapela, ou cultivá-la acintosamente no jardim de casa, era quase uma confissão de fé abolicionista.” (...) “Petrópolis, por exemplo, antes de ser a “cidade das hortências”, foi, no fim do século XIX, a “cidade das camélias” “(p. 46)
    Rui Barbosa, quando foi morar em sua casa definitiva, a Vila Maria Augusta, fez questão de plantar três pés de camélias em seu jardim, que lá se encontram até hoje a florir. Isto feito para marcar a casa de um abolicionista. “São objetos simbólicos, um tipo de atestado ideológico do proprietário, homem de profunda convicção liberal e abolicionista.” (p. 47)

“5. A escravidão é mesmo um roubo: “roubo direto, positivo,material,pecuniário” “ (p. 52)

    O tráfico de negros foi proibido em 1850, no entanto desde 07 de novembro 1831 que foi assinada pelo padre Diogo Feijó a lei que dizia que são livres todos os africanos importados daquela data em diante. Em 1869, Rui Barbosa defendeu a velha lei que para ele fora assinada apenas para dar cumprimento aos acordos internacionais assumidos com a independência; Lei essa que já nasceu esquecida, como se dizia e se firmou até hoje o bordão: “apenas pra inglês ver”. Portanto, para ele, todo tráfico de escravos praticado a partir desta lei era considerado pirataria, e seus objetos eram vítimas de cativeiro indevido, vítimas de pirataria. Para ele, o aceite de tal fraude, colocava todo o sistema sob suspeita, ou mais que isso, fora da lei. Isso propiciou o surgimento, na década de 1880 do slogan da Confederação Abolicionista: “a escravidão é um roubo”. (...)“desde que a escravidão foi percebida como “fora da lei”, então era possível um combate sem trégua ao sistema”. (p. 55)
    “Nunca houve crítica tão radical ao sistema. Ninguém jamais ousou dizer tudo isso nas barbas dos fazendeiros. Era rui Barbosa em um de seus melhores momentos: a escravidão, no Brasil, era um roubo em todos os sentidos: roubo moral, roubo de lesa-pátria, roubo direto, positivo, material e pecuniário. Para ele, pagar indenização aos proprietários – fosse em dinheiro ou tempo de serviço, como aconteceu na maioria dos países – parecia totalmente inaceitável. Era o mesmo que compactuar com a pirataria. Era, moralmente, uma espécie de cumplicidade com o próprio crime que se queria combater. Se a escravidão era mesmo um roubo, então não havia por que indenizar os proprietários. Se é que se possa falar em proprietários.”

                                                                            FIM
                                 FICHAMENTO 

Marx, Karl
O CAPITAL – Crítica da Economia Política. Livro I (P. 426-487)
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
Cap. XIII  - “A Maquinaria e a Indústria Moderna”.

Resumo do Capítulo: O capítulo situa a maquinaria como aquilo que deveria ser a redenção dos trabalhadores, a possibilidade de se produzir mais com menos esforço físico e menos horas de trabalho, como sendo verdadeiramente a serviço do capital o contrário, ou seja, ela torna-se um verdadeiro algoz do trabalhador, impondo-lhe seu ritmo próprio e exigindo que o trabalhador, para poder acompanhá-la, acabe por dispendiar maior esforço físico e mais horas de trabalho, seja em extensão ou em intensidade.
Palavras chave: MAQUINARIA, MAIS-VALIA, TRABALHO, INDÚSTRIA, FÁBRICA, MÁQUINA-FERRAMENTA, MANUFATURA, ARTESANATO, VALOR, PRODUTO, CAPITAL E FORÇA PRODUTIVA.

1-      DESENVOLVIMENTO DA MAQUINARIA” (p. 427)
- “É duvidoso que as invenções mecânicas feitas até agora tenham aliviado a labuta de algum ser humano” (Mill. John Stuart – Principles of olitical economy) (P. 427)
- “Não é esse o objetivo do capital, quando emprega maquinaria. Esse emprego, como qualquer outro desenvolvimento da força produtiva de trabalho, tem por fim baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de trabalho da qual precisa o trabalhador para si mesmo, para ampliar a outra parte que ele dá  gratuitamente ao capitalista. A maquinaria é meio para produzir mais valia.” (P. 427)
Comento: A invenção e o desenvolvimento da  maquinaria tem acima de tudo interesses capitalistas e não os de aliviar a classe trabalhadora. Seu principal interesse é a mais valia do capitalista.

- “E a máquina-ferramenta continua a servir do ponto de partida, sempre que se trata de transformar um ofício ou manufatura em exploração mecanizada. (...) Os aparelhos e instrumentos que trabalhavam o artesão e o trabalhador manufatureiro nela  reaparecem, de modo geral, embora muitas vezes sob forma muito modificada; não são mais instrumentos do homem, e sim ferramentas de um mecanismo, instrumentos mecânicos.” (P. 429)
- “A máquina-ferramenta é, portanto, um mecanismo que, ao lhe ser transmitido o movimento apropriado, realiza com suas ferramentas as mesmas operações que eram antes realizadas pelo trabalhador com ferramentas semelhantes. Provenha a força motriz do homem ou de outra máquina, a coisa não muda em sua essência”. (P. 430)
Comento: A máquina nada mais é que as ferramentas do artesão agrupadas e organizadas de tal forma a constituir um corpo único, onde a mão de obra pode ser reduzida. Este corpo pode ser movido pelo homem ou por outra máquina.

- “A máquina da qual parte a revolução industrial substitui o trabalhador que maneja uma única ferramenta por um mecanismo que, ao mesmo tempo, opera com certo número de ferramentas idênticas ou semelhantes àquela, e é acionado por uma única força motriz, qualquer que seja a sua forma. Temos então a máquina, mas ainda como elemento simples da produção mecanizada”. (P. 432)
- “Além disso, a força humana é um instrumento muito imperfeito para produzir um movimento uniforme e contínuo”. (P.432)
Comento: A máquina ainda é vista como uma ferramenta “experimental” onde está se testando e aperfeiçoando suas capacidades de produção, bem como sua fonte de energia, que possa ser algo mais uniforme que a força humana.

- “Assim, o período manufatureiro desenvolveu os primeiros elementos científicos e técnicos da indústria moderna”. (P. 433)
- “Assim, uma fábrica de tecelagem se constitui de muitos teares mecânicos aglomerados no mesmo local, e uma fábrica de costura, de muitas máquinas de costura  também reunidas no mesmo ponto.” (P. 435)
Comento:  Observa-se aqui a importância da tecelagem como fator de desenvolvimento das técnicas e ciências de um mecanismo composto, a máquina, e o seu desenvolvimento tecnológico.

- “A própria manufatura, de modo geral, fornece ao sistema de máquinas, nos ramos em que este primeiro se introduz, a base original de divisão e, consequentemente, da organização do processo de produção.” (P. 436)
- “Se o trabalhador é incorporado a determinado processo, foi este antes ajustado ao trabalhador. Na produção mecanizada, desaparece esse princípio subjetivo da divisão do trabalho.” (P. 436)
Comento: O ajuste do trabalho ao trabalhador, antes necessária ao trabalho artesanal, como divisão do trabalho, na mecanização não se faz necessário visto que o trabalhador é que deve se ajustar ao processo de produção mecanizado.

- “Quando a máquina-ferramenta, ao transformar a matéria prima, executa sem ajuda humana todos os movimentos necessários, precisando apenas da vigilância do homem para uma intervenção eventual, temos um sistema automático, suscetível, entretanto, de contínuos aperfeiçoamentos.” (P. 437)
- “As invenções de Vaucanson, Arkwright, Watt e outros só puderam concretizar-se porque eles encontraram à mão um número apreciável de hábeis trabalhadores mecânicos, que vieram do período manufatureiro.” (P. 438)
- “Além disso, em certo estágio de desenvolvimento, a indústria moderna entrou tecnicamente em conflito com a base que possuía no artesanato e na manufatura.” (P. 439)
Comento:  As máquinas se mostravam úteis, porém era necessário a constante presença do homem pois seus sistemas automáticos não respondiam a defeitos ocasionados pela própria atividade de produção. Estas máquinas tiveram suas capacidades de produção aperfeiçoadas graças a presença de trabalhadores experientes da manufatura, e isto não se mostrou suficiente para evitar um conflito entre a indústria moderna e o artesanato e a manufatura.

- “Assim, a mecanização da fiação torna necessária a mecanização da tecelagem, e ambas ocasionam a revolução química e mecânica do branqueamento, na estampagem e na tinturaria.” (P. 440)
- “A revolução no modo de produção da indústria e da agricultura tornou sobretudo necessária uma revolução nas condições gerais do processo social de produção, isto é, nos meios de comunicação e de transporte.” (P. 440)
- “A indústria moderna teve então de apoderar-se de seu instrumento característico de produção, a própria máquina, e de produzir  máquinas com máquinas. Só assim criou ela sua base técnica adequada e ergueu-se sobre seus próprios pés.” (P. 441)
Comento: A mecanização cria novas necessidades como o transporte de grandes quantidades, a maior eficiência na comunicação, bem como a de se mecanizar outras atividades para que possam se completar em tempo real e uma não deixe de produzir por conta de outra não compatível. Da mesma forma é preciso que se mecanize a fabricação das próprias máquinas para que se possa melhorar sua qualidade produtiva e atender a crescente demanda.

- O Instrumental de trabalho, ao converter-se em maquinaria, exige a substituição da força humana por forças naturais, e da rotina empírica, pela aplicação consciente da ciência. Na manufatura, a organização do processo de trabalho social é puramente subjetiva, uma combinação de trabalhadores parciais. No sistema de máquinas, tem a indústria moderna o organismo de produção inteiramente objetivo que o trabalhador encontra pronto e acabado como condição material da produção.” (P. 442)
- “A maquinaria, com exceções a mencionar mais tarde, só funciona por meio de trabalho diretamente coletivizado ou comum. O caráter cooperativo do processo de trabalho torna-se uma necessidade técnica imposta pela natureza do próprio instrumental de trabalho.” (P. 442)
Comento: Na maquinaria faz-se necessário a organização do trabalho coletivo, diferentemente dos trabalhos artesanais, onde cada um faz a sua parte individualmente, na maquinaria é preciso que haja uma coordenação geral dos trabalhadores, que os organize e distribua as funções de forma a formar um todo coletivo.  
  
2-      VALOR QUE A MAQUINARIA TRANSFERE AO PRODUTO (P. 442)
- “Vimos que nada custam ao capital as forças produtivas que derivam da cooperação e da divisão do trabalho. São as forças naturais do trabalho social. Também nada custam as força naturais, como vapor e água, incorporadas aos processos produtivos.” (P. 442-443)
- “Mas a exploração dessas leis pela telegrafia exige instalações custosas e vastas.” (P. 443)
- “A ciência nada custa ao capitalista, o que não o impede de explorá-la. (P. 443)
Comento: As forças naturais, assim como a ciência  podem ser exploradas sem custo direto ao capitalista, porém suas formas de aplicação e transmissão, muitas vezes requerem altos investimentos.

- “Enquanto a máquina possui valor e, consequentemente, transfere valor ao produto, ela constitui um componente do valor do produto. Em vez de barateá-lo, encarece-o na proporção de seu próprio valor.” (P. 443)
- “Há uma grande diferença entre o papel que a máquina desempenha na formação do valor do produto e o que desempenha na formação do produto. E, quanto mais dure a máquina repetindo o mesmo processo, tanto maior a diferença.” (P. 444)
- “Quanto maior a força produtiva das máquinas em relação à dos instrumentos manuais, tanto maior o serviço que presta, em comparação com o que se obtém desses instrumentos.” (P. 444)
Comento: A máquina como agente de redução do valor do produto, pode não ser eficaz, uma vez que o seu próprio valor deve ser agregado ao valor do produto final que ela produz. Quanto mais a máquina produz um determinado item em série, menor poderá ser o valor desse produto.

- “A produção de maquinaria com maquinaria reduz, porém, seu valor em relação à sua amplitude e à sua eficácia.” (P. 446)
Comento: Quanto mais seriado e automatizado puder ser a fabricação da própria maquinaria, menor o  valor final do resultado de sua produção.

- “Há mero deslocamento de trabalho quando a produção de uma máquina custa tanto trabalho quanto o que ela economiza ao ser aplicada, não diminuindo, portanto, o trabalho exigido para produzir determinada quantidade de mercadoria nem aumentando a força produtiva da trabalho.” (P. 447)
- “A produtividade da máquina mede-se, por isso, pela proporção em que ela substitui a força de trabalho do homem.” (P. 447)
Comento: Para que a máquina seja realmente um agente da economia, gerador de mais valia, é preciso que o seu custo total seja inferior ao que ela pode produzir como valor em um período pré-determinado. Caso contrário poderá ser, na melhor das hipóteses, apenas uma troca de valores.

3-      CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS DA PRODUÇÃO MECANIZADA SOBRE O TRABALHADOR (P. 451)

- “O ponto de partida da indústria moderna, conforme já vimos, é a revolução do instrumental de trabalho, e esse instrumental revolucionado assume sua forma mais desenvolvida no sistema orgânico de máquinas da fábrica.” (P. 451)
- “a) Apropriação pelo capital das forças de trabalho suplementares. O trabalho das mulheres e das crianças” (P. 451)
- “Tornando supérflua a força muscular, a maquinaria permite o emprego de trabalhadores sem força muscular ou com desenvolvimento físico incompleto, mas com membros mais flexíveis.” (P. 451)
- “Na Escócia, os fabricantes procuram, de todos os modos possíveis, excluir de suas fábricas os meninos obrigados a frequentar a escola.” (P. 459)
- “Com o afluxo predominante de crianças e mulheres na formação do pessoal de trabalho combinado, quebra a maquinaria finalmente a resistência que o trabalhador masculino opunha, na manufatura, ao despotismo do capital.” (P. 460)
Comento: O sistema de maquinarias assume definitivamente a força necessária para a produção, deixando o valor da força do homem adulto como segundo plano, desta forma a força de trabalho suplementar começa a ser apresentada como uma opção importante.

- “b) Prolongamento da jornada de trabalho” (P. 460)
- “A maquinaria gera novas condições que capacitam o capital a dar plena vazão a essa tendência constante que o caracteriza, e cria novos motivos para aguçar-lhe a cobiça por trabalho alheio.” (P. 460)
   - “Antes de tudo, o movimento e a atividade do instrumental de trabalho se tornam, com a maquinaria, independentes do trabalhador.” (P. 460)
Comento: Por se tornar independente do trabalhador, a atividade da maquinaria começa a determinar  a sua necessidade de acompanhamento, e o trabalhador deverá se adaptar e esta nova condição.

- “Mas a máquina experimenta ainda, além do material, o desgaste moral. Perde valor-de-troca, na medida em que se podem produzir mais barato máquinas da mesma construção ou fazer melhores máquinas que com ela concorram.” (P. 462) 
- “Quanto mais curto o período em que se reproduz seu valor global, tanto menor o perigo de desgaste moral, e, quanto maior a duração da jornada de trabalho, tanto mais curto aquele período.” (P. 462)
- “Aumenta, então, a mais valia, ao mesmo tempo que diminuem os gastos necessários para obtê-la.” (P. 463)
- “ ”Quando um trabalhador agrícola põe de lado sua pá, torna inútil um capital de 18 pence, durante o período em que ela está parada. Quando um dos nossos [ele se refere aos trabalhadores das fábricas] abandona a fábrica, torna inútil um capital que custou 100.000 libras esterlinas.” “
Comento:  Para se evitar o desgaste moral de uma máquina, o capital precisa explorar dela toda a sua capacidade de produção em um espaço de tempo o mais curto possível, para isso ele (o capital) exige também que o trabalhador acompanhe o ritmo desta máquina intensificando sua jornada ou aumentando-a.

- “Demais, ao recrutar para o capital camadas da classe trabalhadora que antes lhe eram inacessíveis e ao dispensar trabalhadores substituídos pelas máquinas, produz uma população trabalhadora excedente, compelida a submeter-se à lei do capital. (P. 465)
- “Daí o paradoxo econômico que torna o mais poderoso meio de encurtar o tempo de trabalho no meio mais infalível de transformar todo o tempo de vida do trabalhador e de sua família em tempo de trabalho de que pode lançar mão o capital para expandir seu valor. (P. 466)
- “O prolongamento desmedido da jornada de trabalho, produzido pela maquinaria nas mãos do capital, ao fim de certo tempo provoca, conforme já vimos, uma reação da sociedade, que, ameaçada em suas raízes vitais, estabelece uma jornada normal de trabalho, legalmente limitado. (P. 467)
Comento: O capital começa a lançar mão de toda a família do trabalhador para gerar mais valia, enquanto se deveria encurtar o tempo de trabalho, a maquinaria faz com que esse tempo seja exigido cada vez mais, visto que as máquinas não se cansam de trabalhar.

- “Em termos genéricos, o método de produção da mais valia relativa consiste em capacitar o trabalhador, com o acrécimo da produtividade do trabalho, a produzir mais, com o mesmo dispêndio de trabalho no mesmo tempo. (P. 467)
- “O tempo de trabalho é medido agora de duas maneiras: segundo sua extensão, sua duração, e segundo seu grau de condensação, sua intensidade. (P. 468)
- “A capacidade de operar da força de trabalho está na razão inversa do tempo em que opera. Por isso, dentro de certos limites, o que se perde em duração, ganha-se em eficácia. (P. 468)
- “ “O trabalho dos que se ocupam com os processos executados nas fábricas é hoje três vezes maior do que o empregado quando se iniciou esse gênero de operações. Sem dúvida, a máquina tem realizado tarefas que exigiriam a força de milhões de homens, mas multiplicou monstruosamente o trabalho daqueles que são governados por seus terríveis movimentos.” “ (P. 471)
- “ “ Nessas imensas oficinas, a benfazeja potência do motor reúne em torno de si miríades de súditos.” “ (P. 479)
Comento:  Aquela que surgiram com promessas de facilitar a vida dos trabalhadores, tornaram-se seus verdadeiros senhores. Enquanto se acreditava que as máquinas poderiam diminuir o tempo de trabalho e o esforço físico do homem, elas tornaram-se seus algozes, ditando o seu ritmo de trabalho e intensificando cada vez mais o esforço humano em prol do aumento da produção. Os trabalhadores tornaram-se “súditos” dos autômatos. 

- “A hierarquia dos trabalhadores especializados que a caracteriza é substituída, na fábrica automática, pela tendência de igualar ou nivelar os trabalhos que os auxiliares das máquinas tem de executar; as diferenças artificiais entre os trabalhadores parciais são predominantemente substituídas pelas diferenças naturais de idade e de sexo. (P. 480)
- “Para trabalhar com máquina, o trabalhador tem de começar sua aprendizagem muito cedo, a fim de adaptar seu próprio movimento ao movimento uniforme e contínuo de  um autômato. (P. 480)
- “Na manufatura e no artesanato, o trabalhador se serve da ferramenta; na fábrica, serve à máquina. Naqueles, procede dele o movimento do instrumental de trabalho; nesta, ele tem de acompanhar o movimento do instrumental. Na manufatura, os trabalhadores são membros de um mecanismo vivo. Na fábrica, eles se tornam complementos vivos de um mecanismo morto que existe independente deles.  (P. 482)
- “ “A dificuldade principal na fábrica automática residia na disciplina necessária para fazer humanos renunciarem a seus hábitos irregulares de trabalho e se identificarem com a invariável regularidade do grande autômato.” “ P. 484)
Comento: Nas fábricas, o trabalhador, diferentemente da manufatura e artesanato, tornam-se iguais visto que quem dita as regras do ritmo de trabalho são as máquinas. As diferenças hierárquicas deixam de existir, subsistindo apenas diferenças por sexo e idade. A prática do trabalho com as máquinas está muito mais no costume do seu ritmo que em especializações.


FIM
FICHAMENTO

Malinowski, Bronislaw.
ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL Um Relato do Empreendimento e da Aventura dos Nativos nos Arquipélagos da Nova Guiné Melanésia.
São Paulo: Abril Cultural, 2ª edição, 1978.
Introdução, Capítulos III e IV.

INTRODUÇÃO
Tema, método e objetivo desta pesquisa. (P. 18)

I - Apresenta as populações costeiras das ilhas do sul do pacífico como hábeis navegadores, construtores de canoas e comerciantes. No comércio, é apresentado pela primeira vez o  Kula.

II – Primeiro ele apresenta os métodos utilizados na coleta de materiais etnográficos, enfatiza a necessidade de “sinceridade metodológica ao manipular os fatos...” (P. 18)
      É preciso que o etnógrafo considere os dois lados distintos, sendo eles: “os resultados das observações diretas e das declarações e interpretações nativas e (...) as inferências do autor baseadas em seu próprio bom senso e instituição psicológica”. (P. 18)

III – Percebe a dificuldade de comunicação com os nativos apenas falando o  inglês pidgin. Ele observa que não pode haver por parte do etnógrafo nenhum tipo de preconceito ou opinião já sedimentada em relação ao nativo. O êxito na pesquisa se dá através de paciência e aplicação sistemática e bom senso, e não por atalhos facilitadores.

IV - São três os princípios metodológicos: Objetivos; condições de trabalho e métodos de coleta,manipulação e registros.
        Condições de trabalho: Permanecer junto ao nativo e longe do branco o maior tempo possível. É preciso participar da vida corriqueira do nativo para ser aceito totalmente e passar despercebido entre eles.

V - O cientista deve ter a capacidade de levantar problemas e se inspirar em estudos teóricos para decifrá-los e resolvê-los.
      “De fato, podemos constatar nas sociedades nativas a existência de um entrelaçado de deveres, funções e privilégios intimamente associados a uma organização tribal, comunitária e familiar bastante complexa” (P. 23) – Deve-se observar que há uma vasta organização nativa que se rege por códigos próprios de comportamento e boas maneiras.
       “O objetivo fundamental da pesquisa etnográfica de campo, é portanto, estabelecer o contorno firme e claro da instituição tribal e delinear as leis e os padrões de todos fenômenos culturais, isolando-os de fatos irrelevantes”. (P. 24) – O etnógrafo deve fazer um estudo  detalhado das partes para posteriormente poder observar o conjunto do todo e entender o seu mais complexo significado.

VI – Na pesquisa de campo, o etnógrafo deve observar as leis e regulamentos permanentes que regem a vida tribal, elementos estes que não são encontrados expostos ao mesmo, pois são resultados de tradições, instintos, impulsos nativos e condições do meio ambiente em que vivem. O cientista precisa estabelecer um esquema mental  que lhe permita estabelecer um roteiro a seus trabalhos.
       Um esboço preliminar pode apresentar novos problemas até então desconhecidos. O pesquisador deve sempre que possível transformar o seu esquema mental em um esquema real, através de gráficos,diagramas, quadros e mapas.

VII - Imponderáveis da vida real:  Fenômenos de suma importância que devem ser observados em sua plena realidade e não apenas por auxilio de questionários ou de estatísticas, são eles as atividades do dia a dia, as rotinas de trabalho, os laços de amizade e os comportamentos emocionais dos nativos, dentre outros. Para observar e registrar esses fenômenos, deve o etnógrafo considerar importante a subjetividade do observador que “interfere de modo mais marcante do que a coleta de dados etnográficos cristalizados”. (P. 31) – Deve o etnógrafo fazer tais observações e anotações desde o início, visto que certos fatos quando se tornam rotineiros podem perder a sua real importância, para isso ele deve usar o “diário etnográfico” (P. 31)
        É importante que o etnógrafo muitas vezes, participe, ele mesmo, dos atos e rituais da tribo.

VIII – “O terceiro mandamento da pesquisa de campo é, pois, descobrir os modos de pensar e sentir típicos, correspondentes às instituições e à cultura de determinada comunidade e formular os resultados de maneira vívida e convincente” (P. 32) -  Aprender a língua nativa é de grande valia para tal finalidade, bem como, para o arquivo de material linguístico.

IX – Três caminhos para se alcançar os objetivos da pesquisa de campo etnográfica:   1- Delinear a anatomia e a cultura da tribo; 2- Manter um diário etnográfico onde se possa registrar com precisão os imponderáveis da vida real e os tipos de comportamentos nativos; 3- O Corpus inscriptionum – Magia, folclore,fórmulas, palavras características, etc.
         Deve-se observar e respeitar as diferença de cada cultura, seus códigos, leis, virtudes, costumes, valores e em que consiste a felicidade de cada povo sem interferir e nem preconceituar os modos nativos.
        Muitas vezes, só conhecemos a nós mesmos verdadeiramente após conhecer modos distantes e diferentes de vida.

CAPÍTULO III
Características essenciais do kula. (P. 71)

I – O Kula  é uma forma de troca intertribal que forma um circuito fechado onde apenas dois tipos de artigos viajam em direções opostas. No sentido horário os colares de conchas vermelhas e no sentido oposto, os braceletes de conchas brancas. Em alguns casos essas trocas são acompanhadas de cerimônias e rituais mágicos. Os artigos trocados no Kula  nunca permanecem muito tempo com uma só pessoa, e esta troca uma vez feita é refeita sempre. “Ele vincula um grande número de tribos e abraça um enorme conjunto de atividades inter-relacionadas e interdependentes de modo a formar um todo orgânico” (P. 72) – Importante observar que o nativo que participa do Kula não consegue vê-lo de fora como um observador externo, ele participa mas não é capaz de compreender e nem de explicar a amplitude da construção social organizada de que faz parte.

II – O Kula  tem datas, locais, rotas e todo um cerimonial pré definido. Ele tem um caráter de relacionamento amplo, intertribal e permanente, onde a confiança e o crédito canalizam essa relação. Os artigos permutados  no Kula  são objetos sem nenhuma utilidade prática.  “O Kula (...), não passa de um sistema bastante simples que a primeira vista poderia até mesmo parecer insípido e pouco romântico”. (P. 74) – No entanto, essa troca aparentemente simples se mostra como um alicerce de relações intertribais de grande importância.

III – Os braceletes e colares trocados no Kula jamais são usados no dia a dia ou em festas menores nas aldeias. “Esses objetos não são, possuídos para serem usados”. (P. 75) – A posse temporária desses objetos significa importância e gloria para a aldeia possuidora, por seu grande valor histórico. São esses objetos também chamados de objetos cerimoniais.

IV – As trocas dos objetos do Kula  estão sujeitas a rigorosos limites e regras, uma delas é que só pode ser realizada entre parceiros. “O número de parceiros que um indivíduo pode ter varia de acordo com a sua posição social e importância”. (P. 77)  - O parceiro de além mar torna-se um amigo e anfitrião em viagens e situações perigosas que exigem auxilio mútuo. As transações do  Kula  são regidas geograficamente sempre em sentido oposto e permanente, ou seja: Os nativos sempre passam os braceletes da esquerda para a direita e os colares em sentido contrário perfazendo uma rota circular.
      Os nativos não, podem manter a posse de nenhum objeto do kula por mais de dois anos sob pena de censura por mesquinhez. 

V – Um presente dado no Kula  deve ser retribuído com um contrapresente de igual valor, caso isso não aconteça, o recebedor da parte de menor valor ficará decepcionado mas, no entanto, não poderá reagir  ou se negar a tal troca. “(...) para os nativos do Kula, possuir é dar (...) a riqueza é, portanto, o principal indício de poder e a generosidade sinal de riqueza”. (P.81) – Neste caso observa-se que a norma social que regula a conduta do nativo é: “Quanto mais importante ele for, mais deseja sobressair-se por sua generosidade.” (P. 82)

VI – As atividades secundárias – Comércio secundário ao Kula – Construção de canoas. Como observadores externos podemos concluir primariamente que o comércio e a construção de canoas podem ser as principais atividades do Kula, mas com um olhar etnográfico mais profundo pode-se concluir que a atividade do Kula  em si, é a principal, sendo as demais, secundárias, sendo a construção de canoas e o comércio subsidiário apenas complementos necessários à realização do Kula  como centro das instituições.
       O Kula  está enraizado também na crença da magia que o domina e numa rica mitologia. “As grandes expedições marítimas constituem de longe, a parte mais espetacular do Kula” (P. 86).

CAPÍTULO IV
As canoas e a navegação (P. 87)

I – É preciso, antes de tudo, saber o significado de uma canoa para o nativo, antes mesmo até, de sua funcionalidade. A canoa para o nativo, assim como um barco para o marinheiro branco reflete, muito mais que um mero meio de transporte, mas uma tradição, um objeto de culto e admiração, algo vivo e com personalidade própria. “Para ele, a canoa representa o instrumento poderoso que lhe permite tornar-se senhor da natureza, capaz de singrar mares perigosos em demanda a terras distantes”. (P. 88)

II – “(...) a propriedade não é uma instituição simples, visto que implica em direitos específicos de diversas pessoas combinadas ao direito supremo e ao título de propriedade de um indivíduo”. (P. 92) – Há uma espécie de “acordo” entre os nativos que determina o real proprietário da canoa mas lhe impõe alguns “deveres” de ceder a outros também o uso da mesma, de forma que não só o proprietário possa usufruir da canoa, o que seria impossível, pois se tratando das grandes canoas ele precisaria sempre de ajuda para fazê-la navegar. Quando se trata de canoas do tipo masawa , sua propriedade é ainda mais complexa.

III – A  masawa  (canoa marítima) é construída por um grupo de pessoas e seu uso e propriedade é comum a todos.
A – “A organização social do trabalho na construção de uma canoa” (P. 93)
(1)    “A diferenciação sociológica das funções”. (P. 93)
(1.1)          Dono da canoa – Chefe ou líder da aldeia, responsável pelo empreendimento;
(1.2)          O especialista – Aquele que sabe construir a canoa e executar a sua magia. Pode haver dois ou mais especialistas na construção de uma canoa;
(1.3)          Os trabalhadores – Parentes e amigos do proprietário e/ou do especialista e nativos em geral que apoiam no trabalho comunitário.
(2)    “A regulação do trabalho por meio da magia” (P. 94) – “(...) a magia esta vinculada a todo empreendimento no qual fazem parte o perigo ou o acaso” (P. 94)
- Ressalto que nos dias atuais e na nossa “chamada” civilização, observamos semelhante comportamento quando do lançamento de um grande navio ao mar pela primeira vez, no momento do “batismo” do mesmo, é chamado um padre ou pastor para benzer ou ungir a embarcação. Será que no fundo não tem o mesmo significado?           Observa-se também que mesmo com o poder da magia, uma construção defeituosa não será compensada, ou seja, a magia apenas acrescenta as qualidades que a canoa já deve ter.
IV – (B) “Sociologia das propriedades das canoas” (P. 95) – “Entre a propriedade puramente individual e o coletivismo há uma escala completa de misturas e combinações”. (P. 95)
1-      (...)
2-      “O uso e as vantagens econômicas derivadas da canoa não são exclusividade do toliwaga”. (P. 97)
3-      “O toliwaga tem privilégios sociais específicos e exerce funções definidas no manejo de uma canoa”. (P. 97) – Os peritos em navegação são uma categoria que tem sempre o direito de navegar.
4-      A magia que acompanha a construção de uma canoa é executada pelo especialista, porém a executada com relação à navegação e ao Kula , é pelo toliwaga.
V-   (3) “A tripulação da canoa – Distribuição social das funções”. (P. 98) – As tarefas específicas são confiadas a pessoas que a elas se dedicam com exclusividade. O toliwaga  será sempre o “capitão” da canoa.


FIM

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Você é o que você é, o que você está, você apenas está, você não é.


    
    Quando nascemos, ou mesmo antes de nascermos, quando a mulher aparece grávida, a pergunta que todos fazem é sempre: É menino ou menina? “É ”, e não está menino ou menina, pois essa definição de sexo será levada para sempre, mesmo que um dia esta pessoa apresente comportamento diferente do naturalmente esperado ou mesmo que  faça alguma alteração cirúrgica em sua anatomia. Ela nunca deixará de ser homem ou mulher, mesmo que alterado ou modificado física ou psicologicamente.
    Mas durante a vida muita coisa se modifica, passamos a “estar” em muitas posições diferentes, a ocupar cargos, melhoramos ou pioramos nossa situação social, financeira, de saúde, sentimental, espiritual, etc. Enfim nada é estável e imutável no decorrer de uma vida. Mesmo aqueles que um dia pensam que “são” alguma coisa, devem sempre lembrar que não “somos” nada, apenas estamos.
    Algumas pessoas, devido a sua condição financeira, ao poder que detém, a classe social que ocupam ou até mesmo a cor de sua pele acreditam que são melhores que outras. Acreditam que “serão” para sempre aquilo que “estão” em determinado momento de sua vida. Ledo engano. E isso, em muitos casos, acaba sendo motivo de grande decepção quando ela percebe, quase sempre em seus piores momentos, que não “são” aquilo que pensavam ser, apenas “estavam”.
    Gosto de fazer um paralelo entre o “ser e estar” e autoridade e poder. Poder é uma coisa que nos é dada por alguém, um chefe, um superior ou até mesmo pelo povo, no caso do sufrágio popular, mas no entanto ele não nos pertence, ou seja se alguém me deu, esse alguém pode me tirar a qualquer momento esse poder.  Esse caso comparo com o “estar”: Estou chefe portanto tenho o poder do chefe, estou comandante portanto tenho o poder do comandante, estou presidente portanto tenho o poder do presidente, e por aí vai. “Estou”, e não “sou”. Hoje eu estou bem, mas amanhã posso não estar mais. Diferentemente de “ser”. Eu “sou” homem (ou mulher), eu “sou” branco (ou negro) e isso não deixarei jamais de ser um dia. Esse “ser” eu relaciono mais a  autoridade. Eu “sou”  líder, não chefe ou comandante, mas líder. Esta liderança é conquistada com o trabalho, com o exemplo e se transforma em autoridade. Essa autoridade é sua e ninguém poderá tirá-la de você, mesmo que lhe tirem o poder, a autoridade não lhe tirarão porque ninguém a deu a você, você que a conquistou com o seu trabalho.
    Posso citar como exemplos, um ex-chefe, um ex-comandante ou um ex-presidente, que um dia teve poder que alguém lhe deu, ou seja, “esteve” chefe, comandante ou presidente, mas que em determinado momento foi-lhe tirado esse poder por quem lhe deu. No entanto, se essa pessoa quando teve o poder em suas mãos soube administrá-lo, ela transformou o seu poder em autoridade,  aquilo que ela “estava” ela passou a “ser” para os seus subordinados e comandados ou até mesmo superiores, porque poder é difícil de se ter com seus superiores, mas autoridade não é.
    Concluo, portanto que, existe aquilo que você “é” por natureza e aquilo que você passa a “ser” por conquista legítima em sua vida (autoridade), mas a grande maioria das coisas, cargos, funções, designações ( e com elas muito poder, as vezes) que nos são “dadas” não são nossos de verdade. Nós não o somos, apesar de nos sentirmos e acreditarmos que somos.            
“Eu não sou ministro, eu estou ministro. Eu sou professor”. Eduardo Portela

terça-feira, 11 de setembro de 2012

QUESTIONÁRIO POLÍTICO


ANTES DE ESCOLHER O SEU CANDIDATO SUBMETA-O  A ESTE QUESTIONÁRIO, DEPOIS DECIDA.
01-               Você conhece o passado de seu candidato?
02-               Você sabe o seu endereço, onde ele reside realmente?
03-               Você conhece algum serviço que ele já tenha prestado voluntariamente a sua comunidade?
04-               Você sabe quais são as propostas e projetos de seu candidato, se eleito?
05-               Você vê, normalmente o seu candidato com a família em sua comunidade?
06-               O seu candidato só aparece de quatro em quatro anos, ou ele está sempre presente em sua comunidade?
07-               Se o seu candidato já exerceu cargo eletivo, você sabe quais foram os seus projetos aprovados para o bem de sua comunidade?
08-               Se o seu candidato já exerceu algum cargo público, como foi o seu desempenho em benefício de sua comunidade?
09-               O seu candidato demonstra ser independente, ou parece estar com compromisso com alguma empresa que presta serviço ao poder público?
10-               O seu candidato te ofereceu algum benefício particular para colocar placas dele em sua residência?

         Após responder a este questionário, veja se realmente o candidato que você escolheu será o melhor para a sua comunidade, se ele está pensando no bem comum ou ele faz qualquer coisa para ser eleito. Não venda seu voto, ele é a sua maior arma na democracia.