sexta-feira, 21 de junho de 2013

                                 FICHAMENTO 

Marx, Karl
O CAPITAL – Crítica da Economia Política. Livro I (P. 426-487)
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
Cap. XIII  - “A Maquinaria e a Indústria Moderna”.

Resumo do Capítulo: O capítulo situa a maquinaria como aquilo que deveria ser a redenção dos trabalhadores, a possibilidade de se produzir mais com menos esforço físico e menos horas de trabalho, como sendo verdadeiramente a serviço do capital o contrário, ou seja, ela torna-se um verdadeiro algoz do trabalhador, impondo-lhe seu ritmo próprio e exigindo que o trabalhador, para poder acompanhá-la, acabe por dispendiar maior esforço físico e mais horas de trabalho, seja em extensão ou em intensidade.
Palavras chave: MAQUINARIA, MAIS-VALIA, TRABALHO, INDÚSTRIA, FÁBRICA, MÁQUINA-FERRAMENTA, MANUFATURA, ARTESANATO, VALOR, PRODUTO, CAPITAL E FORÇA PRODUTIVA.

1-      DESENVOLVIMENTO DA MAQUINARIA” (p. 427)
- “É duvidoso que as invenções mecânicas feitas até agora tenham aliviado a labuta de algum ser humano” (Mill. John Stuart – Principles of olitical economy) (P. 427)
- “Não é esse o objetivo do capital, quando emprega maquinaria. Esse emprego, como qualquer outro desenvolvimento da força produtiva de trabalho, tem por fim baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de trabalho da qual precisa o trabalhador para si mesmo, para ampliar a outra parte que ele dá  gratuitamente ao capitalista. A maquinaria é meio para produzir mais valia.” (P. 427)
Comento: A invenção e o desenvolvimento da  maquinaria tem acima de tudo interesses capitalistas e não os de aliviar a classe trabalhadora. Seu principal interesse é a mais valia do capitalista.

- “E a máquina-ferramenta continua a servir do ponto de partida, sempre que se trata de transformar um ofício ou manufatura em exploração mecanizada. (...) Os aparelhos e instrumentos que trabalhavam o artesão e o trabalhador manufatureiro nela  reaparecem, de modo geral, embora muitas vezes sob forma muito modificada; não são mais instrumentos do homem, e sim ferramentas de um mecanismo, instrumentos mecânicos.” (P. 429)
- “A máquina-ferramenta é, portanto, um mecanismo que, ao lhe ser transmitido o movimento apropriado, realiza com suas ferramentas as mesmas operações que eram antes realizadas pelo trabalhador com ferramentas semelhantes. Provenha a força motriz do homem ou de outra máquina, a coisa não muda em sua essência”. (P. 430)
Comento: A máquina nada mais é que as ferramentas do artesão agrupadas e organizadas de tal forma a constituir um corpo único, onde a mão de obra pode ser reduzida. Este corpo pode ser movido pelo homem ou por outra máquina.

- “A máquina da qual parte a revolução industrial substitui o trabalhador que maneja uma única ferramenta por um mecanismo que, ao mesmo tempo, opera com certo número de ferramentas idênticas ou semelhantes àquela, e é acionado por uma única força motriz, qualquer que seja a sua forma. Temos então a máquina, mas ainda como elemento simples da produção mecanizada”. (P. 432)
- “Além disso, a força humana é um instrumento muito imperfeito para produzir um movimento uniforme e contínuo”. (P.432)
Comento: A máquina ainda é vista como uma ferramenta “experimental” onde está se testando e aperfeiçoando suas capacidades de produção, bem como sua fonte de energia, que possa ser algo mais uniforme que a força humana.

- “Assim, o período manufatureiro desenvolveu os primeiros elementos científicos e técnicos da indústria moderna”. (P. 433)
- “Assim, uma fábrica de tecelagem se constitui de muitos teares mecânicos aglomerados no mesmo local, e uma fábrica de costura, de muitas máquinas de costura  também reunidas no mesmo ponto.” (P. 435)
Comento:  Observa-se aqui a importância da tecelagem como fator de desenvolvimento das técnicas e ciências de um mecanismo composto, a máquina, e o seu desenvolvimento tecnológico.

- “A própria manufatura, de modo geral, fornece ao sistema de máquinas, nos ramos em que este primeiro se introduz, a base original de divisão e, consequentemente, da organização do processo de produção.” (P. 436)
- “Se o trabalhador é incorporado a determinado processo, foi este antes ajustado ao trabalhador. Na produção mecanizada, desaparece esse princípio subjetivo da divisão do trabalho.” (P. 436)
Comento: O ajuste do trabalho ao trabalhador, antes necessária ao trabalho artesanal, como divisão do trabalho, na mecanização não se faz necessário visto que o trabalhador é que deve se ajustar ao processo de produção mecanizado.

- “Quando a máquina-ferramenta, ao transformar a matéria prima, executa sem ajuda humana todos os movimentos necessários, precisando apenas da vigilância do homem para uma intervenção eventual, temos um sistema automático, suscetível, entretanto, de contínuos aperfeiçoamentos.” (P. 437)
- “As invenções de Vaucanson, Arkwright, Watt e outros só puderam concretizar-se porque eles encontraram à mão um número apreciável de hábeis trabalhadores mecânicos, que vieram do período manufatureiro.” (P. 438)
- “Além disso, em certo estágio de desenvolvimento, a indústria moderna entrou tecnicamente em conflito com a base que possuía no artesanato e na manufatura.” (P. 439)
Comento:  As máquinas se mostravam úteis, porém era necessário a constante presença do homem pois seus sistemas automáticos não respondiam a defeitos ocasionados pela própria atividade de produção. Estas máquinas tiveram suas capacidades de produção aperfeiçoadas graças a presença de trabalhadores experientes da manufatura, e isto não se mostrou suficiente para evitar um conflito entre a indústria moderna e o artesanato e a manufatura.

- “Assim, a mecanização da fiação torna necessária a mecanização da tecelagem, e ambas ocasionam a revolução química e mecânica do branqueamento, na estampagem e na tinturaria.” (P. 440)
- “A revolução no modo de produção da indústria e da agricultura tornou sobretudo necessária uma revolução nas condições gerais do processo social de produção, isto é, nos meios de comunicação e de transporte.” (P. 440)
- “A indústria moderna teve então de apoderar-se de seu instrumento característico de produção, a própria máquina, e de produzir  máquinas com máquinas. Só assim criou ela sua base técnica adequada e ergueu-se sobre seus próprios pés.” (P. 441)
Comento: A mecanização cria novas necessidades como o transporte de grandes quantidades, a maior eficiência na comunicação, bem como a de se mecanizar outras atividades para que possam se completar em tempo real e uma não deixe de produzir por conta de outra não compatível. Da mesma forma é preciso que se mecanize a fabricação das próprias máquinas para que se possa melhorar sua qualidade produtiva e atender a crescente demanda.

- O Instrumental de trabalho, ao converter-se em maquinaria, exige a substituição da força humana por forças naturais, e da rotina empírica, pela aplicação consciente da ciência. Na manufatura, a organização do processo de trabalho social é puramente subjetiva, uma combinação de trabalhadores parciais. No sistema de máquinas, tem a indústria moderna o organismo de produção inteiramente objetivo que o trabalhador encontra pronto e acabado como condição material da produção.” (P. 442)
- “A maquinaria, com exceções a mencionar mais tarde, só funciona por meio de trabalho diretamente coletivizado ou comum. O caráter cooperativo do processo de trabalho torna-se uma necessidade técnica imposta pela natureza do próprio instrumental de trabalho.” (P. 442)
Comento: Na maquinaria faz-se necessário a organização do trabalho coletivo, diferentemente dos trabalhos artesanais, onde cada um faz a sua parte individualmente, na maquinaria é preciso que haja uma coordenação geral dos trabalhadores, que os organize e distribua as funções de forma a formar um todo coletivo.  
  
2-      VALOR QUE A MAQUINARIA TRANSFERE AO PRODUTO (P. 442)
- “Vimos que nada custam ao capital as forças produtivas que derivam da cooperação e da divisão do trabalho. São as forças naturais do trabalho social. Também nada custam as força naturais, como vapor e água, incorporadas aos processos produtivos.” (P. 442-443)
- “Mas a exploração dessas leis pela telegrafia exige instalações custosas e vastas.” (P. 443)
- “A ciência nada custa ao capitalista, o que não o impede de explorá-la. (P. 443)
Comento: As forças naturais, assim como a ciência  podem ser exploradas sem custo direto ao capitalista, porém suas formas de aplicação e transmissão, muitas vezes requerem altos investimentos.

- “Enquanto a máquina possui valor e, consequentemente, transfere valor ao produto, ela constitui um componente do valor do produto. Em vez de barateá-lo, encarece-o na proporção de seu próprio valor.” (P. 443)
- “Há uma grande diferença entre o papel que a máquina desempenha na formação do valor do produto e o que desempenha na formação do produto. E, quanto mais dure a máquina repetindo o mesmo processo, tanto maior a diferença.” (P. 444)
- “Quanto maior a força produtiva das máquinas em relação à dos instrumentos manuais, tanto maior o serviço que presta, em comparação com o que se obtém desses instrumentos.” (P. 444)
Comento: A máquina como agente de redução do valor do produto, pode não ser eficaz, uma vez que o seu próprio valor deve ser agregado ao valor do produto final que ela produz. Quanto mais a máquina produz um determinado item em série, menor poderá ser o valor desse produto.

- “A produção de maquinaria com maquinaria reduz, porém, seu valor em relação à sua amplitude e à sua eficácia.” (P. 446)
Comento: Quanto mais seriado e automatizado puder ser a fabricação da própria maquinaria, menor o  valor final do resultado de sua produção.

- “Há mero deslocamento de trabalho quando a produção de uma máquina custa tanto trabalho quanto o que ela economiza ao ser aplicada, não diminuindo, portanto, o trabalho exigido para produzir determinada quantidade de mercadoria nem aumentando a força produtiva da trabalho.” (P. 447)
- “A produtividade da máquina mede-se, por isso, pela proporção em que ela substitui a força de trabalho do homem.” (P. 447)
Comento: Para que a máquina seja realmente um agente da economia, gerador de mais valia, é preciso que o seu custo total seja inferior ao que ela pode produzir como valor em um período pré-determinado. Caso contrário poderá ser, na melhor das hipóteses, apenas uma troca de valores.

3-      CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS DA PRODUÇÃO MECANIZADA SOBRE O TRABALHADOR (P. 451)

- “O ponto de partida da indústria moderna, conforme já vimos, é a revolução do instrumental de trabalho, e esse instrumental revolucionado assume sua forma mais desenvolvida no sistema orgânico de máquinas da fábrica.” (P. 451)
- “a) Apropriação pelo capital das forças de trabalho suplementares. O trabalho das mulheres e das crianças” (P. 451)
- “Tornando supérflua a força muscular, a maquinaria permite o emprego de trabalhadores sem força muscular ou com desenvolvimento físico incompleto, mas com membros mais flexíveis.” (P. 451)
- “Na Escócia, os fabricantes procuram, de todos os modos possíveis, excluir de suas fábricas os meninos obrigados a frequentar a escola.” (P. 459)
- “Com o afluxo predominante de crianças e mulheres na formação do pessoal de trabalho combinado, quebra a maquinaria finalmente a resistência que o trabalhador masculino opunha, na manufatura, ao despotismo do capital.” (P. 460)
Comento: O sistema de maquinarias assume definitivamente a força necessária para a produção, deixando o valor da força do homem adulto como segundo plano, desta forma a força de trabalho suplementar começa a ser apresentada como uma opção importante.

- “b) Prolongamento da jornada de trabalho” (P. 460)
- “A maquinaria gera novas condições que capacitam o capital a dar plena vazão a essa tendência constante que o caracteriza, e cria novos motivos para aguçar-lhe a cobiça por trabalho alheio.” (P. 460)
   - “Antes de tudo, o movimento e a atividade do instrumental de trabalho se tornam, com a maquinaria, independentes do trabalhador.” (P. 460)
Comento: Por se tornar independente do trabalhador, a atividade da maquinaria começa a determinar  a sua necessidade de acompanhamento, e o trabalhador deverá se adaptar e esta nova condição.

- “Mas a máquina experimenta ainda, além do material, o desgaste moral. Perde valor-de-troca, na medida em que se podem produzir mais barato máquinas da mesma construção ou fazer melhores máquinas que com ela concorram.” (P. 462) 
- “Quanto mais curto o período em que se reproduz seu valor global, tanto menor o perigo de desgaste moral, e, quanto maior a duração da jornada de trabalho, tanto mais curto aquele período.” (P. 462)
- “Aumenta, então, a mais valia, ao mesmo tempo que diminuem os gastos necessários para obtê-la.” (P. 463)
- “ ”Quando um trabalhador agrícola põe de lado sua pá, torna inútil um capital de 18 pence, durante o período em que ela está parada. Quando um dos nossos [ele se refere aos trabalhadores das fábricas] abandona a fábrica, torna inútil um capital que custou 100.000 libras esterlinas.” “
Comento:  Para se evitar o desgaste moral de uma máquina, o capital precisa explorar dela toda a sua capacidade de produção em um espaço de tempo o mais curto possível, para isso ele (o capital) exige também que o trabalhador acompanhe o ritmo desta máquina intensificando sua jornada ou aumentando-a.

- “Demais, ao recrutar para o capital camadas da classe trabalhadora que antes lhe eram inacessíveis e ao dispensar trabalhadores substituídos pelas máquinas, produz uma população trabalhadora excedente, compelida a submeter-se à lei do capital. (P. 465)
- “Daí o paradoxo econômico que torna o mais poderoso meio de encurtar o tempo de trabalho no meio mais infalível de transformar todo o tempo de vida do trabalhador e de sua família em tempo de trabalho de que pode lançar mão o capital para expandir seu valor. (P. 466)
- “O prolongamento desmedido da jornada de trabalho, produzido pela maquinaria nas mãos do capital, ao fim de certo tempo provoca, conforme já vimos, uma reação da sociedade, que, ameaçada em suas raízes vitais, estabelece uma jornada normal de trabalho, legalmente limitado. (P. 467)
Comento: O capital começa a lançar mão de toda a família do trabalhador para gerar mais valia, enquanto se deveria encurtar o tempo de trabalho, a maquinaria faz com que esse tempo seja exigido cada vez mais, visto que as máquinas não se cansam de trabalhar.

- “Em termos genéricos, o método de produção da mais valia relativa consiste em capacitar o trabalhador, com o acrécimo da produtividade do trabalho, a produzir mais, com o mesmo dispêndio de trabalho no mesmo tempo. (P. 467)
- “O tempo de trabalho é medido agora de duas maneiras: segundo sua extensão, sua duração, e segundo seu grau de condensação, sua intensidade. (P. 468)
- “A capacidade de operar da força de trabalho está na razão inversa do tempo em que opera. Por isso, dentro de certos limites, o que se perde em duração, ganha-se em eficácia. (P. 468)
- “ “O trabalho dos que se ocupam com os processos executados nas fábricas é hoje três vezes maior do que o empregado quando se iniciou esse gênero de operações. Sem dúvida, a máquina tem realizado tarefas que exigiriam a força de milhões de homens, mas multiplicou monstruosamente o trabalho daqueles que são governados por seus terríveis movimentos.” “ (P. 471)
- “ “ Nessas imensas oficinas, a benfazeja potência do motor reúne em torno de si miríades de súditos.” “ (P. 479)
Comento:  Aquela que surgiram com promessas de facilitar a vida dos trabalhadores, tornaram-se seus verdadeiros senhores. Enquanto se acreditava que as máquinas poderiam diminuir o tempo de trabalho e o esforço físico do homem, elas tornaram-se seus algozes, ditando o seu ritmo de trabalho e intensificando cada vez mais o esforço humano em prol do aumento da produção. Os trabalhadores tornaram-se “súditos” dos autômatos. 

- “A hierarquia dos trabalhadores especializados que a caracteriza é substituída, na fábrica automática, pela tendência de igualar ou nivelar os trabalhos que os auxiliares das máquinas tem de executar; as diferenças artificiais entre os trabalhadores parciais são predominantemente substituídas pelas diferenças naturais de idade e de sexo. (P. 480)
- “Para trabalhar com máquina, o trabalhador tem de começar sua aprendizagem muito cedo, a fim de adaptar seu próprio movimento ao movimento uniforme e contínuo de  um autômato. (P. 480)
- “Na manufatura e no artesanato, o trabalhador se serve da ferramenta; na fábrica, serve à máquina. Naqueles, procede dele o movimento do instrumental de trabalho; nesta, ele tem de acompanhar o movimento do instrumental. Na manufatura, os trabalhadores são membros de um mecanismo vivo. Na fábrica, eles se tornam complementos vivos de um mecanismo morto que existe independente deles.  (P. 482)
- “ “A dificuldade principal na fábrica automática residia na disciplina necessária para fazer humanos renunciarem a seus hábitos irregulares de trabalho e se identificarem com a invariável regularidade do grande autômato.” “ P. 484)
Comento: Nas fábricas, o trabalhador, diferentemente da manufatura e artesanato, tornam-se iguais visto que quem dita as regras do ritmo de trabalho são as máquinas. As diferenças hierárquicas deixam de existir, subsistindo apenas diferenças por sexo e idade. A prática do trabalho com as máquinas está muito mais no costume do seu ritmo que em especializações.


FIM

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