FICHAMENTO
Marx, Karl
O CAPITAL – Crítica
da Economia Política. Livro I (P. 426-487)
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
Cap. XIII - “A Maquinaria e a
Indústria Moderna”.
Resumo do Capítulo: O
capítulo situa a maquinaria como aquilo que deveria ser a redenção dos
trabalhadores, a possibilidade de se produzir mais com menos esforço físico e
menos horas de trabalho, como sendo verdadeiramente a serviço do capital o
contrário, ou seja, ela torna-se um verdadeiro algoz do trabalhador,
impondo-lhe seu ritmo próprio e exigindo que o trabalhador, para poder
acompanhá-la, acabe por dispendiar maior esforço físico e mais horas de
trabalho, seja em extensão ou em intensidade.
Palavras chave: MAQUINARIA,
MAIS-VALIA, TRABALHO, INDÚSTRIA, FÁBRICA, MÁQUINA-FERRAMENTA, MANUFATURA,
ARTESANATO, VALOR, PRODUTO, CAPITAL E FORÇA PRODUTIVA.
1-
“DESENVOLVIMENTO
DA MAQUINARIA” (p. 427)
- “É duvidoso que as invenções mecânicas feitas
até agora tenham aliviado a labuta de algum ser humano” (Mill. John Stuart –
Principles of olitical economy) (P. 427)
- “Não é esse o objetivo do capital, quando emprega maquinaria.
Esse emprego, como qualquer outro desenvolvimento da força produtiva de
trabalho, tem por fim baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de
trabalho da qual precisa o trabalhador para si mesmo, para ampliar a outra
parte que ele dá gratuitamente ao
capitalista. A maquinaria é meio para produzir mais valia.” (P. 427)
Comento: A invenção e
o desenvolvimento da maquinaria tem
acima de tudo interesses capitalistas e não os de aliviar a classe
trabalhadora. Seu principal interesse é a mais valia do capitalista.
- “E a
máquina-ferramenta continua a servir do ponto de partida, sempre que se trata
de transformar um ofício ou manufatura em exploração mecanizada. (...) Os
aparelhos e instrumentos que trabalhavam o artesão e o trabalhador manufatureiro
nela reaparecem, de modo geral, embora
muitas vezes sob forma muito modificada; não são mais instrumentos do homem, e
sim ferramentas de um mecanismo, instrumentos mecânicos.” (P. 429)
- “A
máquina-ferramenta é, portanto, um mecanismo que, ao lhe ser transmitido o
movimento apropriado, realiza com suas ferramentas as mesmas operações que eram
antes realizadas pelo trabalhador com ferramentas semelhantes. Provenha a força
motriz do homem ou de outra máquina, a coisa não muda em sua essência”. (P.
430)
Comento: A máquina
nada mais é que as ferramentas do artesão agrupadas e organizadas de tal forma
a constituir um corpo único, onde a mão de obra pode ser reduzida. Este corpo
pode ser movido pelo homem ou por outra máquina.
- “A máquina da qual parte
a revolução industrial substitui o trabalhador que maneja uma única ferramenta
por um mecanismo que, ao mesmo tempo, opera com certo número de ferramentas
idênticas ou semelhantes àquela, e é acionado por uma única força motriz,
qualquer que seja a sua forma. Temos então a máquina, mas ainda como elemento
simples da produção mecanizada”. (P. 432)
- “Além disso, a
força humana é um instrumento muito imperfeito para produzir um movimento
uniforme e contínuo”. (P.432)
Comento: A máquina
ainda é vista como uma ferramenta “experimental” onde está se testando e
aperfeiçoando suas capacidades de produção, bem como sua fonte de energia, que
possa ser algo mais uniforme que a força humana.
- “Assim, o período
manufatureiro desenvolveu os primeiros elementos científicos e técnicos da
indústria moderna”. (P. 433)
- “Assim, uma fábrica
de tecelagem se constitui de muitos teares mecânicos aglomerados no mesmo
local, e uma fábrica de costura, de muitas máquinas de costura também reunidas no mesmo ponto.” (P. 435)
Comento: Observa-se aqui a importância da tecelagem
como fator de desenvolvimento das técnicas e ciências de um mecanismo composto,
a máquina, e o seu desenvolvimento tecnológico.
- “A própria
manufatura, de modo geral, fornece ao sistema de máquinas, nos ramos em que
este primeiro se introduz, a base original de divisão e, consequentemente, da
organização do processo de produção.” (P. 436)
- “Se o trabalhador é
incorporado a determinado processo, foi este antes ajustado ao trabalhador. Na
produção mecanizada, desaparece esse princípio subjetivo da divisão do
trabalho.” (P. 436)
Comento: O ajuste do
trabalho ao trabalhador, antes necessária ao trabalho artesanal, como divisão
do trabalho, na mecanização não se faz necessário visto que o trabalhador é que
deve se ajustar ao processo de produção mecanizado.
- “Quando a
máquina-ferramenta, ao transformar a matéria prima, executa sem ajuda humana
todos os movimentos necessários, precisando apenas da vigilância do homem para
uma intervenção eventual, temos um sistema automático, suscetível, entretanto,
de contínuos aperfeiçoamentos.” (P. 437)
- “As invenções de
Vaucanson, Arkwright, Watt e outros só puderam concretizar-se porque eles
encontraram à mão um número apreciável de hábeis trabalhadores mecânicos, que
vieram do período manufatureiro.” (P. 438)
- “Além disso, em
certo estágio de desenvolvimento, a indústria moderna entrou tecnicamente em
conflito com a base que possuía no artesanato e na manufatura.” (P. 439)
Comento: As máquinas se mostravam úteis, porém era
necessário a constante presença do homem pois seus sistemas automáticos não
respondiam a defeitos ocasionados pela própria atividade de produção. Estas
máquinas tiveram suas capacidades de produção aperfeiçoadas graças a presença
de trabalhadores experientes da manufatura, e isto não se mostrou suficiente
para evitar um conflito entre a indústria moderna e o artesanato e a
manufatura.
- “Assim, a
mecanização da fiação torna necessária a mecanização da tecelagem, e ambas
ocasionam a revolução química e mecânica do branqueamento, na estampagem e na
tinturaria.” (P. 440)
- “A revolução no
modo de produção da indústria e da agricultura tornou sobretudo necessária uma
revolução nas condições gerais do processo social de produção, isto é, nos
meios de comunicação e de transporte.” (P. 440)
- “A indústria
moderna teve então de apoderar-se de seu instrumento característico de
produção, a própria máquina, e de produzir
máquinas com máquinas. Só assim criou ela sua base técnica adequada e
ergueu-se sobre seus próprios pés.” (P. 441)
Comento: A mecanização
cria novas necessidades como o transporte de grandes quantidades, a maior
eficiência na comunicação, bem como a de se mecanizar outras atividades para
que possam se completar em tempo real e uma não deixe de produzir por conta de
outra não compatível. Da mesma forma é preciso que se mecanize a fabricação das
próprias máquinas para que se possa melhorar sua qualidade produtiva e atender
a crescente demanda.
- O Instrumental de
trabalho, ao converter-se em maquinaria, exige a substituição da força humana
por forças naturais, e da rotina empírica, pela aplicação consciente da
ciência. Na manufatura, a organização do processo de trabalho social é
puramente subjetiva, uma combinação de trabalhadores parciais. No sistema de
máquinas, tem a indústria moderna o organismo de produção inteiramente objetivo
que o trabalhador encontra pronto e acabado como condição material da produção.”
(P. 442)
- “A maquinaria, com
exceções a mencionar mais tarde, só funciona por meio de trabalho diretamente
coletivizado ou comum. O caráter cooperativo do processo de trabalho torna-se
uma necessidade técnica imposta pela natureza do próprio instrumental de
trabalho.” (P. 442)
Comento: Na maquinaria
faz-se necessário a organização do trabalho coletivo, diferentemente dos
trabalhos artesanais, onde cada um faz a sua parte individualmente, na
maquinaria é preciso que haja uma coordenação geral dos trabalhadores, que os
organize e distribua as funções de forma a formar um todo coletivo.
2-
“VALOR
QUE A MAQUINARIA TRANSFERE AO PRODUTO” (P. 442)
- “Vimos que nada
custam ao capital as forças produtivas que derivam da cooperação e da divisão
do trabalho. São as forças naturais do trabalho social. Também nada custam as
força naturais, como vapor e água, incorporadas aos processos produtivos.” (P.
442-443)
- “Mas a exploração
dessas leis pela telegrafia exige instalações custosas e vastas.” (P. 443)
- “A ciência nada
custa ao capitalista, o que não o impede de explorá-la. (P. 443)
Comento: As forças
naturais, assim como a ciência podem ser
exploradas sem custo direto ao capitalista, porém suas formas de aplicação e
transmissão, muitas vezes requerem altos investimentos.
- “Enquanto a máquina
possui valor e, consequentemente, transfere valor ao produto, ela constitui um
componente do valor do produto. Em vez de barateá-lo, encarece-o na proporção
de seu próprio valor.” (P. 443)
- “Há uma grande
diferença entre o papel que a máquina desempenha na formação do valor do
produto e o que desempenha na formação do produto. E, quanto mais dure a
máquina repetindo o mesmo processo, tanto maior a diferença.” (P. 444)
- “Quanto maior a
força produtiva das máquinas em relação à dos instrumentos manuais, tanto maior
o serviço que presta, em comparação com o que se obtém desses instrumentos.”
(P. 444)
Comento: A máquina
como agente de redução do valor do produto, pode não ser eficaz, uma vez que o
seu próprio valor deve ser agregado ao valor do produto final que ela produz.
Quanto mais a máquina produz um determinado item em série, menor poderá ser o
valor desse produto.
- “A produção de
maquinaria com maquinaria reduz, porém, seu valor em relação à sua amplitude e
à sua eficácia.” (P. 446)
Comento: Quanto mais
seriado e automatizado puder ser a fabricação da própria maquinaria, menor
o valor final do resultado de sua
produção.
- “Há mero
deslocamento de trabalho quando a produção de uma máquina custa tanto trabalho
quanto o que ela economiza ao ser aplicada, não diminuindo, portanto, o
trabalho exigido para produzir determinada quantidade de mercadoria nem
aumentando a força produtiva da trabalho.” (P. 447)
- “A produtividade da
máquina mede-se, por isso, pela proporção em que ela substitui a força de
trabalho do homem.” (P. 447)
Comento: Para que a
máquina seja realmente um agente da economia, gerador de mais valia, é preciso
que o seu custo total seja inferior ao que ela pode produzir como valor em um
período pré-determinado. Caso contrário poderá ser, na melhor das hipóteses,
apenas uma troca de valores.
3- CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS DA PRODUÇÃO
MECANIZADA SOBRE O TRABALHADOR (P. 451)
- “O ponto de partida
da indústria moderna, conforme já vimos, é a revolução do instrumental de
trabalho, e esse instrumental revolucionado assume sua forma mais desenvolvida
no sistema orgânico de máquinas da fábrica.” (P. 451)
- “a) Apropriação pelo capital das forças de trabalho
suplementares. O trabalho das mulheres e das crianças” (P. 451)
- “Tornando supérflua
a força muscular, a maquinaria permite o emprego de trabalhadores sem força
muscular ou com desenvolvimento físico incompleto, mas com membros mais
flexíveis.” (P. 451)
- “Na Escócia, os
fabricantes procuram, de todos os modos possíveis, excluir de suas fábricas os
meninos obrigados a frequentar a escola.” (P. 459)
- “Com o afluxo
predominante de crianças e mulheres na formação do pessoal de trabalho
combinado, quebra a maquinaria finalmente a resistência que o trabalhador
masculino opunha, na manufatura, ao despotismo do capital.” (P. 460)
Comento: O sistema de
maquinarias assume definitivamente a força necessária para a produção, deixando
o valor da força do homem adulto como segundo plano, desta forma a força de
trabalho suplementar começa a ser apresentada como uma opção importante.
- “b) Prolongamento da jornada de trabalho” (P. 460)
- “A maquinaria gera
novas condições que capacitam o capital a dar plena vazão a essa tendência
constante que o caracteriza, e cria novos motivos para aguçar-lhe a cobiça por
trabalho alheio.” (P. 460)
- “Antes de tudo, o movimento e a atividade
do instrumental de trabalho se tornam, com a maquinaria, independentes do
trabalhador.” (P. 460)
Comento: Por se tornar
independente do trabalhador, a atividade da maquinaria começa a determinar a sua
necessidade de acompanhamento, e o trabalhador deverá se adaptar e esta nova
condição.
- “Mas a máquina
experimenta ainda, além do material, o desgaste moral. Perde valor-de-troca, na
medida em que se podem produzir mais barato máquinas da mesma construção ou
fazer melhores máquinas que com ela concorram.” (P. 462)
- “Quanto mais curto
o período em que se reproduz seu valor global, tanto menor o perigo de desgaste
moral, e, quanto maior a duração da jornada de trabalho, tanto mais curto
aquele período.” (P. 462)
- “Aumenta, então, a
mais valia, ao mesmo tempo que diminuem os gastos necessários para obtê-la.” (P.
463)
- “ ”Quando um
trabalhador agrícola põe de lado sua pá, torna inútil um capital de 18 pence, durante o período em que ela está
parada. Quando um dos nossos [ele se refere aos trabalhadores das fábricas]
abandona a fábrica, torna inútil um capital que custou 100.000 libras
esterlinas.” “
Comento: Para se evitar o desgaste moral de uma
máquina, o capital precisa explorar dela toda a sua capacidade de produção em
um espaço de tempo o mais curto possível, para isso ele (o capital) exige
também que o trabalhador acompanhe o ritmo desta máquina intensificando sua
jornada ou aumentando-a.
- “Demais, ao
recrutar para o capital camadas da classe trabalhadora que antes lhe eram
inacessíveis e ao dispensar trabalhadores substituídos pelas máquinas, produz
uma população trabalhadora excedente, compelida a submeter-se à lei do capital.
(P. 465)
- “Daí o paradoxo
econômico que torna o mais poderoso meio de encurtar o tempo de trabalho no
meio mais infalível de transformar todo o tempo de vida do trabalhador e de sua
família em tempo de trabalho de que pode lançar mão o capital para expandir seu
valor. (P. 466)
- “O prolongamento
desmedido da jornada de trabalho, produzido pela maquinaria nas mãos do
capital, ao fim de certo tempo provoca, conforme já vimos, uma reação da
sociedade, que, ameaçada em suas raízes vitais, estabelece uma jornada normal
de trabalho, legalmente limitado. (P. 467)
Comento: O capital
começa a lançar mão de toda a família do trabalhador para gerar mais valia,
enquanto se deveria encurtar o tempo de trabalho, a maquinaria faz com que esse
tempo seja exigido cada vez mais, visto que as máquinas não se cansam de
trabalhar.
- “Em termos
genéricos, o método de produção da mais valia relativa consiste em capacitar o
trabalhador, com o acrécimo da produtividade do trabalho, a produzir mais, com
o mesmo dispêndio de trabalho no mesmo tempo. (P. 467)
- “O tempo de
trabalho é medido agora de duas maneiras: segundo sua extensão, sua duração, e
segundo seu grau de condensação, sua intensidade. (P. 468)
- “A capacidade de
operar da força de trabalho está na razão inversa do tempo em que opera. Por
isso, dentro de certos limites, o que se perde em duração, ganha-se em
eficácia. (P. 468)
- “ “O trabalho dos
que se ocupam com os processos executados nas fábricas é hoje três vezes maior
do que o empregado quando se iniciou esse gênero de operações. Sem dúvida, a
máquina tem realizado tarefas que exigiriam a força de milhões de homens, mas
multiplicou monstruosamente o trabalho daqueles que são governados por seus
terríveis movimentos.” “ (P. 471)
- “ “ Nessas imensas
oficinas, a benfazeja potência do motor reúne em torno de si miríades de
súditos.” “ (P. 479)
Comento: Aquela que surgiram com promessas de facilitar
a vida dos trabalhadores, tornaram-se seus verdadeiros senhores. Enquanto se
acreditava que as máquinas poderiam diminuir o tempo de trabalho e o esforço
físico do homem, elas tornaram-se seus algozes, ditando o seu ritmo de trabalho
e intensificando cada vez mais o esforço humano em prol do aumento da produção.
Os trabalhadores tornaram-se “súditos” dos autômatos.
- “A hierarquia dos
trabalhadores especializados que a caracteriza é substituída, na fábrica
automática, pela tendência de igualar ou nivelar os trabalhos que os auxiliares
das máquinas tem de executar; as diferenças artificiais entre os trabalhadores
parciais são predominantemente substituídas pelas diferenças naturais de idade
e de sexo. (P. 480)
- “Para trabalhar com
máquina, o trabalhador tem de começar sua aprendizagem muito cedo, a fim de
adaptar seu próprio movimento ao movimento uniforme e contínuo de um autômato. (P. 480)
- “Na manufatura e no
artesanato, o trabalhador se serve da ferramenta; na fábrica, serve à máquina.
Naqueles, procede dele o movimento do instrumental de trabalho; nesta, ele tem
de acompanhar o movimento do instrumental. Na manufatura, os trabalhadores são
membros de um mecanismo vivo. Na fábrica, eles se tornam complementos vivos de
um mecanismo morto que existe independente deles. (P. 482)
- “ “A dificuldade
principal na fábrica automática residia na disciplina necessária para fazer
humanos renunciarem a seus hábitos irregulares de trabalho e se identificarem
com a invariável regularidade do grande autômato.” “ P. 484)
Comento: Nas fábricas,
o trabalhador, diferentemente da manufatura e artesanato, tornam-se iguais
visto que quem dita as regras do ritmo de trabalho são as máquinas. As
diferenças hierárquicas deixam de existir, subsistindo apenas diferenças por
sexo e idade. A prática do trabalho com as máquinas está muito mais no costume
do seu ritmo que em especializações.
FIM
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