sexta-feira, 21 de junho de 2013

FICHAMENTO

Malinowski, Bronislaw.
ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL Um Relato do Empreendimento e da Aventura dos Nativos nos Arquipélagos da Nova Guiné Melanésia.
São Paulo: Abril Cultural, 2ª edição, 1978.
Introdução, Capítulos III e IV.

INTRODUÇÃO
Tema, método e objetivo desta pesquisa. (P. 18)

I - Apresenta as populações costeiras das ilhas do sul do pacífico como hábeis navegadores, construtores de canoas e comerciantes. No comércio, é apresentado pela primeira vez o  Kula.

II – Primeiro ele apresenta os métodos utilizados na coleta de materiais etnográficos, enfatiza a necessidade de “sinceridade metodológica ao manipular os fatos...” (P. 18)
      É preciso que o etnógrafo considere os dois lados distintos, sendo eles: “os resultados das observações diretas e das declarações e interpretações nativas e (...) as inferências do autor baseadas em seu próprio bom senso e instituição psicológica”. (P. 18)

III – Percebe a dificuldade de comunicação com os nativos apenas falando o  inglês pidgin. Ele observa que não pode haver por parte do etnógrafo nenhum tipo de preconceito ou opinião já sedimentada em relação ao nativo. O êxito na pesquisa se dá através de paciência e aplicação sistemática e bom senso, e não por atalhos facilitadores.

IV - São três os princípios metodológicos: Objetivos; condições de trabalho e métodos de coleta,manipulação e registros.
        Condições de trabalho: Permanecer junto ao nativo e longe do branco o maior tempo possível. É preciso participar da vida corriqueira do nativo para ser aceito totalmente e passar despercebido entre eles.

V - O cientista deve ter a capacidade de levantar problemas e se inspirar em estudos teóricos para decifrá-los e resolvê-los.
      “De fato, podemos constatar nas sociedades nativas a existência de um entrelaçado de deveres, funções e privilégios intimamente associados a uma organização tribal, comunitária e familiar bastante complexa” (P. 23) – Deve-se observar que há uma vasta organização nativa que se rege por códigos próprios de comportamento e boas maneiras.
       “O objetivo fundamental da pesquisa etnográfica de campo, é portanto, estabelecer o contorno firme e claro da instituição tribal e delinear as leis e os padrões de todos fenômenos culturais, isolando-os de fatos irrelevantes”. (P. 24) – O etnógrafo deve fazer um estudo  detalhado das partes para posteriormente poder observar o conjunto do todo e entender o seu mais complexo significado.

VI – Na pesquisa de campo, o etnógrafo deve observar as leis e regulamentos permanentes que regem a vida tribal, elementos estes que não são encontrados expostos ao mesmo, pois são resultados de tradições, instintos, impulsos nativos e condições do meio ambiente em que vivem. O cientista precisa estabelecer um esquema mental  que lhe permita estabelecer um roteiro a seus trabalhos.
       Um esboço preliminar pode apresentar novos problemas até então desconhecidos. O pesquisador deve sempre que possível transformar o seu esquema mental em um esquema real, através de gráficos,diagramas, quadros e mapas.

VII - Imponderáveis da vida real:  Fenômenos de suma importância que devem ser observados em sua plena realidade e não apenas por auxilio de questionários ou de estatísticas, são eles as atividades do dia a dia, as rotinas de trabalho, os laços de amizade e os comportamentos emocionais dos nativos, dentre outros. Para observar e registrar esses fenômenos, deve o etnógrafo considerar importante a subjetividade do observador que “interfere de modo mais marcante do que a coleta de dados etnográficos cristalizados”. (P. 31) – Deve o etnógrafo fazer tais observações e anotações desde o início, visto que certos fatos quando se tornam rotineiros podem perder a sua real importância, para isso ele deve usar o “diário etnográfico” (P. 31)
        É importante que o etnógrafo muitas vezes, participe, ele mesmo, dos atos e rituais da tribo.

VIII – “O terceiro mandamento da pesquisa de campo é, pois, descobrir os modos de pensar e sentir típicos, correspondentes às instituições e à cultura de determinada comunidade e formular os resultados de maneira vívida e convincente” (P. 32) -  Aprender a língua nativa é de grande valia para tal finalidade, bem como, para o arquivo de material linguístico.

IX – Três caminhos para se alcançar os objetivos da pesquisa de campo etnográfica:   1- Delinear a anatomia e a cultura da tribo; 2- Manter um diário etnográfico onde se possa registrar com precisão os imponderáveis da vida real e os tipos de comportamentos nativos; 3- O Corpus inscriptionum – Magia, folclore,fórmulas, palavras características, etc.
         Deve-se observar e respeitar as diferença de cada cultura, seus códigos, leis, virtudes, costumes, valores e em que consiste a felicidade de cada povo sem interferir e nem preconceituar os modos nativos.
        Muitas vezes, só conhecemos a nós mesmos verdadeiramente após conhecer modos distantes e diferentes de vida.

CAPÍTULO III
Características essenciais do kula. (P. 71)

I – O Kula  é uma forma de troca intertribal que forma um circuito fechado onde apenas dois tipos de artigos viajam em direções opostas. No sentido horário os colares de conchas vermelhas e no sentido oposto, os braceletes de conchas brancas. Em alguns casos essas trocas são acompanhadas de cerimônias e rituais mágicos. Os artigos trocados no Kula  nunca permanecem muito tempo com uma só pessoa, e esta troca uma vez feita é refeita sempre. “Ele vincula um grande número de tribos e abraça um enorme conjunto de atividades inter-relacionadas e interdependentes de modo a formar um todo orgânico” (P. 72) – Importante observar que o nativo que participa do Kula não consegue vê-lo de fora como um observador externo, ele participa mas não é capaz de compreender e nem de explicar a amplitude da construção social organizada de que faz parte.

II – O Kula  tem datas, locais, rotas e todo um cerimonial pré definido. Ele tem um caráter de relacionamento amplo, intertribal e permanente, onde a confiança e o crédito canalizam essa relação. Os artigos permutados  no Kula  são objetos sem nenhuma utilidade prática.  “O Kula (...), não passa de um sistema bastante simples que a primeira vista poderia até mesmo parecer insípido e pouco romântico”. (P. 74) – No entanto, essa troca aparentemente simples se mostra como um alicerce de relações intertribais de grande importância.

III – Os braceletes e colares trocados no Kula jamais são usados no dia a dia ou em festas menores nas aldeias. “Esses objetos não são, possuídos para serem usados”. (P. 75) – A posse temporária desses objetos significa importância e gloria para a aldeia possuidora, por seu grande valor histórico. São esses objetos também chamados de objetos cerimoniais.

IV – As trocas dos objetos do Kula  estão sujeitas a rigorosos limites e regras, uma delas é que só pode ser realizada entre parceiros. “O número de parceiros que um indivíduo pode ter varia de acordo com a sua posição social e importância”. (P. 77)  - O parceiro de além mar torna-se um amigo e anfitrião em viagens e situações perigosas que exigem auxilio mútuo. As transações do  Kula  são regidas geograficamente sempre em sentido oposto e permanente, ou seja: Os nativos sempre passam os braceletes da esquerda para a direita e os colares em sentido contrário perfazendo uma rota circular.
      Os nativos não, podem manter a posse de nenhum objeto do kula por mais de dois anos sob pena de censura por mesquinhez. 

V – Um presente dado no Kula  deve ser retribuído com um contrapresente de igual valor, caso isso não aconteça, o recebedor da parte de menor valor ficará decepcionado mas, no entanto, não poderá reagir  ou se negar a tal troca. “(...) para os nativos do Kula, possuir é dar (...) a riqueza é, portanto, o principal indício de poder e a generosidade sinal de riqueza”. (P.81) – Neste caso observa-se que a norma social que regula a conduta do nativo é: “Quanto mais importante ele for, mais deseja sobressair-se por sua generosidade.” (P. 82)

VI – As atividades secundárias – Comércio secundário ao Kula – Construção de canoas. Como observadores externos podemos concluir primariamente que o comércio e a construção de canoas podem ser as principais atividades do Kula, mas com um olhar etnográfico mais profundo pode-se concluir que a atividade do Kula  em si, é a principal, sendo as demais, secundárias, sendo a construção de canoas e o comércio subsidiário apenas complementos necessários à realização do Kula  como centro das instituições.
       O Kula  está enraizado também na crença da magia que o domina e numa rica mitologia. “As grandes expedições marítimas constituem de longe, a parte mais espetacular do Kula” (P. 86).

CAPÍTULO IV
As canoas e a navegação (P. 87)

I – É preciso, antes de tudo, saber o significado de uma canoa para o nativo, antes mesmo até, de sua funcionalidade. A canoa para o nativo, assim como um barco para o marinheiro branco reflete, muito mais que um mero meio de transporte, mas uma tradição, um objeto de culto e admiração, algo vivo e com personalidade própria. “Para ele, a canoa representa o instrumento poderoso que lhe permite tornar-se senhor da natureza, capaz de singrar mares perigosos em demanda a terras distantes”. (P. 88)

II – “(...) a propriedade não é uma instituição simples, visto que implica em direitos específicos de diversas pessoas combinadas ao direito supremo e ao título de propriedade de um indivíduo”. (P. 92) – Há uma espécie de “acordo” entre os nativos que determina o real proprietário da canoa mas lhe impõe alguns “deveres” de ceder a outros também o uso da mesma, de forma que não só o proprietário possa usufruir da canoa, o que seria impossível, pois se tratando das grandes canoas ele precisaria sempre de ajuda para fazê-la navegar. Quando se trata de canoas do tipo masawa , sua propriedade é ainda mais complexa.

III – A  masawa  (canoa marítima) é construída por um grupo de pessoas e seu uso e propriedade é comum a todos.
A – “A organização social do trabalho na construção de uma canoa” (P. 93)
(1)    “A diferenciação sociológica das funções”. (P. 93)
(1.1)          Dono da canoa – Chefe ou líder da aldeia, responsável pelo empreendimento;
(1.2)          O especialista – Aquele que sabe construir a canoa e executar a sua magia. Pode haver dois ou mais especialistas na construção de uma canoa;
(1.3)          Os trabalhadores – Parentes e amigos do proprietário e/ou do especialista e nativos em geral que apoiam no trabalho comunitário.
(2)    “A regulação do trabalho por meio da magia” (P. 94) – “(...) a magia esta vinculada a todo empreendimento no qual fazem parte o perigo ou o acaso” (P. 94)
- Ressalto que nos dias atuais e na nossa “chamada” civilização, observamos semelhante comportamento quando do lançamento de um grande navio ao mar pela primeira vez, no momento do “batismo” do mesmo, é chamado um padre ou pastor para benzer ou ungir a embarcação. Será que no fundo não tem o mesmo significado?           Observa-se também que mesmo com o poder da magia, uma construção defeituosa não será compensada, ou seja, a magia apenas acrescenta as qualidades que a canoa já deve ter.
IV – (B) “Sociologia das propriedades das canoas” (P. 95) – “Entre a propriedade puramente individual e o coletivismo há uma escala completa de misturas e combinações”. (P. 95)
1-      (...)
2-      “O uso e as vantagens econômicas derivadas da canoa não são exclusividade do toliwaga”. (P. 97)
3-      “O toliwaga tem privilégios sociais específicos e exerce funções definidas no manejo de uma canoa”. (P. 97) – Os peritos em navegação são uma categoria que tem sempre o direito de navegar.
4-      A magia que acompanha a construção de uma canoa é executada pelo especialista, porém a executada com relação à navegação e ao Kula , é pelo toliwaga.
V-   (3) “A tripulação da canoa – Distribuição social das funções”. (P. 98) – As tarefas específicas são confiadas a pessoas que a elas se dedicam com exclusividade. O toliwaga  será sempre o “capitão” da canoa.


FIM

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