FICHAMENTO
Malinowski, Bronislaw.
ARGONAUTAS
DO PACÍFICO OCIDENTAL – Um Relato do
Empreendimento e da Aventura dos Nativos nos Arquipélagos da Nova Guiné
Melanésia.
São Paulo: Abril Cultural, 2ª edição, 1978.
Introdução, Capítulos III e IV.
INTRODUÇÃO
Tema, método e objetivo desta pesquisa. (P.
18)
I - Apresenta as populações costeiras das ilhas do
sul do pacífico como hábeis navegadores, construtores de canoas e comerciantes.
No comércio, é apresentado pela primeira vez o Kula.
II – Primeiro ele apresenta os métodos utilizados
na coleta de materiais etnográficos, enfatiza a necessidade de “sinceridade
metodológica ao manipular os fatos...” (P. 18)
É
preciso que o etnógrafo considere os dois lados distintos, sendo eles: “os
resultados das observações diretas e das declarações e interpretações nativas e
(...) as inferências do autor baseadas em seu próprio bom senso e instituição
psicológica”. (P. 18)
III – Percebe a dificuldade de comunicação com os
nativos apenas falando o inglês pidgin. Ele observa que não pode
haver por parte do etnógrafo nenhum tipo de preconceito ou opinião já
sedimentada em relação ao nativo. O êxito na pesquisa se dá através de
paciência e aplicação sistemática e bom senso, e não por atalhos facilitadores.
IV - São três os princípios metodológicos:
Objetivos; condições de trabalho e métodos de coleta,manipulação e registros.
Condições de trabalho: Permanecer junto ao nativo e longe do branco o
maior tempo possível. É preciso participar da vida corriqueira do nativo para
ser aceito totalmente e passar despercebido entre eles.
V - O cientista deve ter a capacidade de levantar
problemas e se inspirar em estudos teóricos para decifrá-los e resolvê-los.
“De
fato, podemos constatar nas sociedades nativas a existência de um entrelaçado
de deveres, funções e privilégios intimamente associados a uma organização
tribal, comunitária e familiar bastante complexa” (P. 23) – Deve-se observar
que há uma vasta organização nativa que se rege por códigos próprios de
comportamento e boas maneiras.
“O
objetivo fundamental da pesquisa etnográfica de campo, é portanto, estabelecer
o contorno firme e claro da instituição tribal e delinear as leis e os padrões
de todos fenômenos culturais, isolando-os de fatos irrelevantes”. (P. 24) – O
etnógrafo deve fazer um estudo detalhado
das partes para posteriormente poder observar o conjunto do todo e entender o
seu mais complexo significado.
VI – Na pesquisa de campo, o etnógrafo deve
observar as leis e regulamentos permanentes que regem a vida tribal, elementos
estes que não são encontrados expostos ao mesmo, pois são resultados de
tradições, instintos, impulsos nativos e condições do meio ambiente em que
vivem. O cientista precisa estabelecer um esquema
mental que lhe permita estabelecer
um roteiro a seus trabalhos.
Um
esboço preliminar pode apresentar novos problemas até então desconhecidos. O
pesquisador deve sempre que possível transformar o seu esquema mental em um esquema real, através de gráficos,diagramas,
quadros e mapas.
VII - Imponderáveis
da vida real: Fenômenos de suma
importância que devem ser observados em sua plena realidade e não apenas por
auxilio de questionários ou de estatísticas, são eles as atividades do dia a
dia, as rotinas de trabalho, os laços de amizade e os comportamentos emocionais
dos nativos, dentre outros. Para observar e registrar esses fenômenos, deve o
etnógrafo considerar importante a subjetividade do observador que “interfere de
modo mais marcante do que a coleta de dados etnográficos cristalizados”. (P.
31) – Deve o etnógrafo fazer tais observações e anotações desde o início, visto
que certos fatos quando se tornam rotineiros podem perder a sua real
importância, para isso ele deve usar o “diário etnográfico” (P. 31)
É
importante que o etnógrafo muitas vezes, participe, ele mesmo, dos atos e
rituais da tribo.
VIII – “O terceiro mandamento da pesquisa de campo
é, pois, descobrir os modos de pensar e sentir típicos, correspondentes às
instituições e à cultura de determinada comunidade e formular os resultados de
maneira vívida e convincente” (P. 32) -
Aprender a língua nativa é de grande valia para tal finalidade, bem
como, para o arquivo de material linguístico.
IX – Três caminhos para se alcançar os objetivos
da pesquisa de campo etnográfica: 1-
Delinear a anatomia e a cultura da tribo; 2- Manter um diário etnográfico onde
se possa registrar com precisão os imponderáveis
da vida real e os tipos de comportamentos nativos; 3- O Corpus inscriptionum – Magia,
folclore,fórmulas, palavras características, etc.
Deve-se observar e respeitar as diferença de cada cultura, seus códigos,
leis, virtudes, costumes, valores e em que consiste a felicidade de cada povo
sem interferir e nem preconceituar os modos nativos.
Muitas vezes, só conhecemos a nós mesmos verdadeiramente após conhecer
modos distantes e diferentes de vida.
CAPÍTULO
III
Características essenciais do kula. (P.
71)
I – O Kula é uma forma de troca intertribal que forma um
circuito fechado onde apenas dois tipos de artigos viajam em direções opostas.
No sentido horário os colares de conchas vermelhas e no sentido oposto, os
braceletes de conchas brancas. Em alguns casos essas trocas são acompanhadas de
cerimônias e rituais mágicos. Os artigos trocados no Kula nunca permanecem muito
tempo com uma só pessoa, e esta troca uma vez feita é refeita sempre. “Ele
vincula um grande número de tribos e abraça um enorme conjunto de atividades
inter-relacionadas e interdependentes de modo a formar um todo orgânico” (P.
72) – Importante observar que o nativo que participa do Kula não consegue vê-lo de fora como um observador externo, ele
participa mas não é capaz de compreender e nem de explicar a amplitude da
construção social organizada de que faz parte.
II – O Kula tem datas, locais, rotas e todo um cerimonial
pré definido. Ele tem um caráter de relacionamento amplo, intertribal e
permanente, onde a confiança e o crédito canalizam essa relação. Os artigos
permutados no Kula são objetos sem nenhuma
utilidade prática. “O Kula (...), não passa de um sistema
bastante simples que a primeira vista poderia até mesmo parecer insípido e
pouco romântico”. (P. 74) – No entanto, essa troca aparentemente simples se
mostra como um alicerce de relações intertribais de grande importância.
III – Os braceletes e colares trocados no Kula jamais são usados no dia a dia ou
em festas menores nas aldeias. “Esses objetos não são, possuídos para serem
usados”. (P. 75) – A posse temporária desses objetos significa importância e
gloria para a aldeia possuidora, por seu grande valor histórico. São esses
objetos também chamados de objetos cerimoniais.
IV – As trocas dos objetos do Kula estão sujeitas a rigorosos
limites e regras, uma delas é que só pode ser realizada entre parceiros. “O
número de parceiros que um indivíduo pode ter varia de acordo com a sua posição
social e importância”. (P. 77) - O
parceiro de além mar torna-se um amigo e anfitrião em viagens e situações
perigosas que exigem auxilio mútuo. As transações do Kula são regidas geograficamente sempre em sentido
oposto e permanente, ou seja: Os nativos sempre passam os braceletes da
esquerda para a direita e os colares em sentido contrário perfazendo uma rota
circular.
Os
nativos não, podem manter a posse de nenhum objeto do kula por mais de dois anos sob pena de censura por mesquinhez.
V – Um presente dado no Kula deve ser retribuído com
um contrapresente de igual valor, caso isso não aconteça, o recebedor da parte
de menor valor ficará decepcionado mas, no entanto, não poderá reagir ou se negar a tal troca. “(...) para os
nativos do Kula, possuir é dar (...)
a riqueza é, portanto, o principal indício de poder e a generosidade sinal de
riqueza”. (P.81) – Neste caso observa-se que a norma social que regula a
conduta do nativo é: “Quanto mais importante ele for, mais deseja sobressair-se
por sua generosidade.” (P. 82)
VI – As atividades secundárias – Comércio
secundário ao Kula – Construção de
canoas. Como observadores externos podemos concluir primariamente que o
comércio e a construção de canoas podem ser as principais atividades do Kula, mas com um olhar etnográfico mais
profundo pode-se concluir que a atividade do Kula em si, é a principal,
sendo as demais, secundárias, sendo a construção de canoas e o comércio
subsidiário apenas complementos necessários à realização do Kula como centro das instituições.
O Kula está enraizado também na crença da magia que o
domina e numa rica mitologia. “As grandes expedições marítimas constituem de
longe, a parte mais espetacular do Kula”
(P. 86).
CAPÍTULO IV
As canoas e a navegação (P. 87)
I – É preciso, antes de tudo, saber o significado
de uma canoa para o nativo, antes mesmo até, de sua funcionalidade. A canoa
para o nativo, assim como um barco para o marinheiro branco reflete, muito mais
que um mero meio de transporte, mas uma tradição, um objeto de culto e
admiração, algo vivo e com personalidade própria. “Para ele, a canoa representa
o instrumento poderoso que lhe permite tornar-se senhor da natureza, capaz de
singrar mares perigosos em demanda a terras distantes”. (P. 88)
II – “(...) a propriedade não é uma instituição
simples, visto que implica em direitos específicos de diversas pessoas
combinadas ao direito supremo e ao título de propriedade de um indivíduo”. (P.
92) – Há uma espécie de “acordo” entre os nativos que determina o real
proprietário da canoa mas lhe impõe alguns “deveres” de ceder a outros também o
uso da mesma, de forma que não só o proprietário possa usufruir da canoa, o que
seria impossível, pois se tratando das grandes canoas ele precisaria sempre de
ajuda para fazê-la navegar. Quando se trata de canoas do tipo masawa , sua propriedade é ainda mais
complexa.
III – A masawa (canoa marítima) é construída por um grupo de
pessoas e seu uso e propriedade é comum a todos.
A – “A organização social do trabalho na construção
de uma canoa” (P. 93)
(1)
“A diferenciação sociológica das funções”. (P.
93)
(1.1)
Dono da canoa – Chefe ou líder da aldeia,
responsável pelo empreendimento;
(1.2)
O especialista – Aquele que sabe construir a
canoa e executar a sua magia. Pode haver dois ou mais especialistas na
construção de uma canoa;
(1.3)
Os trabalhadores – Parentes e amigos do
proprietário e/ou do especialista e nativos em geral que apoiam no trabalho
comunitário.
(2)
“A regulação do trabalho por meio da magia” (P.
94) – “(...) a magia esta vinculada a todo empreendimento no qual fazem parte o
perigo ou o acaso” (P. 94)
- Ressalto que nos dias atuais e na nossa
“chamada” civilização, observamos semelhante comportamento quando do lançamento
de um grande navio ao mar pela primeira vez, no momento do “batismo” do mesmo,
é chamado um padre ou pastor para benzer ou ungir a embarcação. Será que no
fundo não tem o mesmo significado?
Observa-se também que mesmo com o poder da magia, uma construção
defeituosa não será compensada, ou seja, a magia apenas acrescenta as
qualidades que a canoa já deve ter.
IV – (B) “Sociologia das propriedades das canoas” (P. 95) –
“Entre a propriedade puramente individual e o coletivismo há uma escala
completa de misturas e combinações”. (P. 95)
1-
(...)
2-
“O uso e as vantagens econômicas derivadas da
canoa não são exclusividade do toliwaga”.
(P. 97)
3-
“O toliwaga
tem privilégios sociais específicos e exerce funções definidas no manejo de uma
canoa”. (P. 97) – Os peritos em navegação são uma categoria que tem sempre o
direito de navegar.
4-
A magia que acompanha a construção de uma canoa
é executada pelo especialista, porém a executada com relação à navegação e ao Kula , é pelo toliwaga.
V- (3) “A tripulação
da canoa – Distribuição social das funções”. (P. 98) – As tarefas específicas
são confiadas a pessoas que a elas se dedicam com exclusividade. O toliwaga será sempre o “capitão” da canoa.
FIM
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