Quando nascemos, ou
mesmo antes de nascermos, quando a mulher aparece grávida, a pergunta que todos
fazem é sempre: É menino ou menina? “É ”, e não está menino ou menina, pois
essa definição de sexo será levada para sempre, mesmo que um dia esta pessoa
apresente comportamento diferente do naturalmente esperado ou mesmo que faça alguma alteração cirúrgica em sua
anatomia. Ela nunca deixará de ser homem ou mulher, mesmo que alterado ou modificado
física ou psicologicamente.
Mas durante a vida
muita coisa se modifica, passamos a “estar” em muitas posições diferentes, a
ocupar cargos, melhoramos ou pioramos nossa situação social, financeira, de
saúde, sentimental, espiritual, etc. Enfim nada é estável e imutável no
decorrer de uma vida. Mesmo aqueles que um dia pensam que “são” alguma coisa,
devem sempre lembrar que não “somos” nada, apenas estamos.
Algumas pessoas,
devido a sua condição financeira, ao poder que detém, a classe social que
ocupam ou até mesmo a cor de sua pele acreditam que são melhores que outras.
Acreditam que “serão” para sempre aquilo que “estão” em determinado momento de
sua vida. Ledo engano. E isso, em muitos casos, acaba sendo motivo de grande
decepção quando ela percebe, quase sempre em seus piores momentos, que não “são”
aquilo que pensavam ser, apenas “estavam”.
Gosto de fazer um
paralelo entre o “ser e estar” e autoridade e poder. Poder é uma coisa que nos
é dada por alguém, um chefe, um superior ou até mesmo pelo povo, no caso do
sufrágio popular, mas no entanto ele não nos pertence, ou seja se alguém me
deu, esse alguém pode me tirar a qualquer momento esse poder. Esse caso comparo com o “estar”: Estou chefe
portanto tenho o poder do chefe, estou comandante portanto tenho o poder do
comandante, estou presidente portanto tenho o poder do presidente, e por aí
vai. “Estou”, e não “sou”. Hoje eu estou bem, mas amanhã posso não estar mais.
Diferentemente de “ser”. Eu “sou” homem (ou mulher), eu “sou” branco (ou negro)
e isso não deixarei jamais de ser um dia. Esse “ser” eu relaciono mais a autoridade. Eu “sou” líder, não chefe ou comandante, mas líder.
Esta liderança é conquistada com o trabalho, com o exemplo e se transforma em
autoridade. Essa autoridade é sua e ninguém poderá tirá-la de você, mesmo que
lhe tirem o poder, a autoridade não lhe tirarão porque ninguém a deu a você,
você que a conquistou com o seu trabalho.
Posso citar como
exemplos, um ex-chefe, um ex-comandante ou um ex-presidente, que um dia teve
poder que alguém lhe deu, ou seja, “esteve” chefe, comandante ou presidente,
mas que em determinado momento foi-lhe tirado esse poder por quem lhe deu. No
entanto, se essa pessoa quando teve o poder em suas mãos soube administrá-lo,
ela transformou o seu poder em autoridade, aquilo que ela “estava” ela passou a “ser”
para os seus subordinados e comandados ou até mesmo superiores, porque poder é difícil
de se ter com seus superiores, mas autoridade não é.
Concluo, portanto
que, existe aquilo que você “é” por natureza e aquilo que você passa a “ser”
por conquista legítima em sua vida (autoridade), mas a grande maioria das
coisas, cargos, funções, designações ( e com elas muito poder, as vezes) que
nos são “dadas” não são nossos de verdade. Nós não o somos, apesar de nos
sentirmos e acreditarmos que somos.
“Eu não sou ministro,
eu estou ministro. Eu sou professor”. Eduardo Portela
Eduardo Mattos
Portella (Salvador, 8 de outubro de 1932) é um crítico, professor, escritor, conferencista, pesquisador, pensador, advogado e político brasileiro. Pertence à Academia Brasileira de Letras.
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